Quando contemplamos a Natureza ficamos encantados com a sua beleza, a sua ordem, a sua organização. Sentimos a Vida e tudo o que ultrapassa os nossos limites de compreensão, normalmente habituados ao concreto, ao pequeno, ao imperfeito.
Estudamos matemática, química e muitas outras coisas, muitas vezes de forma muito superficial e racional; como se esse mundo mental de elementos matemáticos e esse mundo experimental de processos químicos fossem uma forma de explicar o mundo em que vivemos e, mais ainda, de explicar apenas a sua parte material e energética.
Mas o nosso ponto de vista poderia ser mais profundo, menos limitado e, talvez, pudéssemos ver esses elementos não apenas como explicação de alguns processos, mas também como a sua causa. Para isso, precisamos ser um pouco mais platónicos e perceber a Alma do Mundo.
Pode-se dizer que o átomo é a menor parte de um elemento químico que mantém todas as suas propriedades. Toda as substâncias são, em última análise, compostas de átomos.
Devido ao seu pequeno tamanho, eles são difíceis de estudar, e as teorias sobre os seus limites e comportamento variaram ao longo do tempo.
O termo átomo vem do latim atomus e este último do grego άτομο, que significa indivisível. Os seres humanos também formam unidades indivisíveis, embora possamos ser despedaçados, mas a essência é uma, o ser humano é um, a identidade é uma.
Resumindo diferentes teorias científicas, poderíamos dizer que um átomo é formado por um núcleo, onde se encontra a maior parte de sua massa, e uma “nuvem eletrónica” que orbita em seu torno. Essa ideia assemelha-se a um pequeno sistema solar, onde o núcleo seria o sol e os eletrões corresponderiam aos planetas, cumprindo assim com a lei da analogia, tão defendida por H.P. Blavatsky.
No núcleo do átomo existem, segundo a ciência atual, basicamente dois tipos de partículas: os protões e os neutrões. O número de protões que o núcleo de um átomo possui define qual o seu elemento químico. Noutras palavras, o que realmente define um elemento químico é o número de protões encontrados no núcleo dos seus átomos. Podemos então dizer que o que define a matéria é o número?
Já comentamos que átomo significa indivisível. Também comentamos que o ser humano é considerado um, apesar de ter muitas partes. Mas, haverá uma parte do ser humano que o sintetize, que seja aquela que provoque a sua unidade?
De acordo com H. P. Blavatsky, Atman é o Espírito universal, a Monada divina e também significa: natureza, caráter, essência… Este Espírito ou Essência universal tem uma correspondência, no ser humano, chamada Atma, que é o Espírito humano, a Monada humana, a sua essência, aquilo que o unifica, a sua unidade.
Novamente falamos de unidade no universo e unidade no ser humano. Unidade de resumo de outras unidades. Voltamos a falar do número um como a essência dos seres. Curiosamente, a palavra Atma é semelhante à palavra átomo.
O átomo mais simples de todos é o de hidrogénio, que contém um único protão no núcleo e, embora apenas por isso, poderia ser considerado a origem da matéria, que seria uma multiplicação desse único protão.
Uma ideia semelhante é mantida por H.P. Blavatsky, quando nos fala sobre Proteu da seguinte forma:
Proteu [Do grego protos, primeiro, e yle, matéria]. [Neologismo usado em química para designar a primeira substância, primordial, homogênea]. É a hipotética matéria primitiva da qual se formaram os elementos dos corpos. A palavra proteu deve-se ao Sr. CrookesNT1, que deu tal nome à pré-matéria, se é que isso pode ser chamado de substância primordial e puramente homogénea, suspeitada, se ainda não realmente descoberta pela ciência na composição final do átomo. Análoga a protoplasma, a palavra proteu – diz aquele eminente químico – “expressa a ideia da matéria original primitiva que existia antes da evolução dos elementos químicos.”
Glossário Teosófico, H.P. Blavatsky
Mas o átomo de hidrogénio, como todos os átomos, responde a formas geométricas. Assim, seus componentes adotam determinadas posições no espaço, dando origem às referidas formas.
Vamos considerar o núcleo esférico e os eletrões, que orbitam ao seu redor, desenhando várias formas com as nuvens de probabilidade de serem encontradas no espaço. Como, de acordo com o Princípio da Incerteza de Heisenberg, a posição exata do eletrão não pode ser conhecida, apenas a probabilidade de que ele esteja num local específico pode ser conhecida. Mas essas nuvens de probabilidade adquirem certas formas, semelhantes em todos os átomos, dependendo de seu número de eletrões.
À medida que o número de eletrões num átomo aumenta, são colocados de forma ordenada em camadas sucessivas, cada uma com capacidade e formato específicos para as suas nuvens de probabilidade (orbitais), como pode ser observado na figura seguinte:
Assim, o primeiro orbital é esférico, com capacidade para dois eletrões. A segunda camada tem capacidade para oito eletrões e é composta por dois orbitais diferentes, um esférico e outro em forma de novelos correspondentes aos três eixos do espaço. À medida que o número de eletrões aumenta, as formas das nuvens de probabilidade (orbitais) tornam-se mais complexas, mas respondem sempre a formas geométricas e à sua capacidade de abrigar eletrões, para igualar números específicos em todos os átomos. Isso diz-nos que a estrutura da matéria é construída com base em números e formas geométricas e que segue as leis da natureza (movimento, atração-repulsão…).
Vejamos agora como as propriedades da matéria respondem aos números, especificamente, ao número de eletrões na última camada ocupada de cada átomo.
Na tabela periódica dos elementos, podemos ver uma representação dos mais conhecidos até então.
Todos os elementos em cada coluna vertical têm o mesmo número de eletrões na sua última camada ocupada, o que lhes confere propriedades semelhantes. Por exemplo, o último grupo é formado pelos gases nobres, assim chamados porque são muito estáveis, raramente reagem, e isso porque a sua última camada tem dois ou oito eletrões. Enquanto a última camada tiver esse número de eletrões, esse átomo e, portanto, esse elemento será muito estável.
Todas as propriedades físicas e químicas dos elementos devem-se à sua posição na tabela periódica e, portanto, em última instância, aos números e formas geométricas.
Mas, estamos a falar apenas da parte física e energética da manifestação, não levamos em consideração o mundo psicológico e mental. Para fazer isso, novamente, procuramos esses elementos em H.P. Blavatsky, em cuja Doutrina Secreta descreve a Causa Composta do Universo da seguinte forma:
Volume I da Doutrina Secreta (Cosmogénese). H. P. Blavatsky.
Uma possível interpretação séria: O Absoluto é Zero, O Um sem Segundo. O Primeiro Logos é o Um. O Segundo Logos é o Dois e o Terceiro Logos é o Três. Posteriormente, começa a manifestação propriamente dita com o Quatro material, reflexo desse Mundo Celestial, que contém em si todos os números básicos que intervêm no ciclo completo da manifestação (1 a 9), pois 1+2+3+4 = 10 = 9+1. Ou seja, os 9 números básicos e o zero.
Poderíamos dizer que tudo na natureza e suas mudanças são regidos por números ou combinações numéricas.
O conceito de número de H. P. Blavatsky, como o platónico ou o pitagórico, não é o mesmo que temos e usamos na nossa vida diária. Os números são, para eles, entidades arquetípicas, que se refletem no mundo manifestado de uma certa forma, que corresponde ao seu “corpo” e que representamos por determinados personagens. Portanto, nas religiões eles são representados por Deuses. Um exemplo disso pode ser visto na Enéada de Heliópolis representada na imagem a seguir:
Até agora falamos sobre os elementos químicos, que são formados pelos mesmos átomos. Agora vamos falar das substâncias químicas, cuja menor unidade é a molécula, que nada mais é do que uma combinação de átomos, que se repete. É a menor unidade de uma substância composta. Como no caso dos átomos, a sua estrutura e as suas possíveis combinações com outras moléculas são regidas por números e formas geométricas.
Um exemplo típico pode ser a água:
A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. Como o hidrogénio possui um único eletrão na sua camada mais externa, não é estável no nível atómico, precisa de outro eletrão, de modo que a sua camada externa possui dois ou oito, que correspondem a uma configuração eletrónica estável. O oxigénio tem seis eletrões na sua camada mais externa, então faltam dois para os oito necessários. A solução é encontrada no compartilhamento de um de seus eletrões com cada átomo de hidrogénio. Assim, cada átomo de hidrogênio possui dois eletrões na última camada e cada átomo de oxigénio possui oito eletrões na última camada. Assim, podemos observar como essa união, estabelecida pelo compartilhamento de eletrões, é regida por números.
Os eletrões compartilhados são chamados de ligações covalentes. Os eletrões pertencentes às ligações são atraídos pelos núcleos dos dois átomos, estabelecendo assim a ligação. Nos núcleos de todos os átomos estão os protões, que têm carga positiva. Num átomo neutro, o número de protões no núcleo é igual ao número de eletrões na camada.
A forma da molécula de água tem a ver com essa atração e com a repulsão que ocorre entre os núcleos de ambos os átomos de hidrogénio. Isso faz com que tenha a forma de um ângulo de 104,45º. Aqui estamos a ver como a lei da atração-repulsão elétrica é cumprida.
Além disso, como o átomo de oxigénio é maior, sua eletronegatividade, ou seja, a capacidade de atrair o par de eletrões compartilhado com o hidrogénio, é maior que a do hidrogénio. Isso faz com que a molécula de água seja polar, ou seja, tem uma extremidade negativa e outra positiva. E isso, por sua vez, faz com que se estabeleça uma atração entre os polos positivo e negativo das diferentes moléculas. Essa atração é uma união chamada ponte de hidrogénio ou ligação de hidrogénio, que faz com que as moléculas sejam ordenadas e a água tenha as propriedades que conhecemos.
Sem pontes de hidrogénio, o ponto de fusão da água seria -100° C e o ponto de ebulição seria próximo a -90° C. Portanto, a vida na Terra como a conhecemos seria impossível.
As pontes de hidrogénio produzem outra propriedade incomum da água: a fase líquida é mais densa que a fase sólida. Desta forma o gelo flutua, o que permite a vida em regiões muito frias do planeta, sob o gelo.
Novamente vemos ordem matemática, formas geométricas definidas. Leis que se cumprem no físico, no energético e que também se expressam noutros planos. Por exemplo, tanto o oxigénio quanto o hidrogénio resolvem problemas compartilhando e colaborando. Essa solução, baseada no compartilhamento, ocorre também noutros tipos de ligações, como a metálica, e aparece, na forma dar-receber, na iónica. Nessa última ligação, os átomos cedem os eletrões que sobraram, na sua última camada para serem estáveis, para os átomos que os têm em falta.
(Continua)
Bibliografía:
Introducción a la Sabiduría de Oriente, Jorge Ángel Livraga.
Glosario Teosófico, H.P. Blavatsky.
Doctrina Secreta, H.P. Blavatsky.
Historia de la Filosofía Antigua, Jorge Ángel Livraga
Wikipedia.
Outros, internet.
Revista Muy Interesante.
Notas
NT1 – Nota da Tradutora: William Crookes (Londres, 17 de junho de 1832 — Londres, 4 de abril de 1919) foi um químico e físico britânico.
Imagem de capa
Alegoria da Ciência, Sebastiano Conca. Domínio público