A Origem das Medidas – apresentação do livro

"Para o seu novo conhecido e correspondente, mas muito, muito velho amigo, Sr. Ralston Skinner, com sentimentos sempre crescentes de simpatia, admiração, apreço e a mais calorosa amizade." - Nota escrita por H. P. Blavatsky, no verso de uma foto enviada para James Ralston Skinner. Londres, maio de 1887.
A Chave para o Mistério hebraico-egípcio da fonte das medidas que originaram a polegada britânica e o antigo côvado

James Ralston Skinner (1830-1893) foi um advogado, maçon e cabalista de Cincinnati, Ohio, que escreveu livros e panfletos que foram influentes para os primeiros teosofistas. Escreveu algumas obras onde se focaliza na importância das medidas de comprimento britânicas, mas o destaque está precisamente nesta obra intitulada originalmente Key to the Hebrew-Egyptian Mystery in the Source of Measures Originating the British Inch and the Ancient Cubit, publicada pela editora R. Clark & Co., em 1875.

Helena Blavatsky reconheceu-lhe muitos atributos, avaliando pelas citações que faz deste autor, na sua Doutrina Secreta. A sua admiração está bem patente na nota que lhe dedicou, no verso de uma fotografia da própria Blavatsky, que lhe foi oferecida em maio de 1887 (Skinner, J. Ralston. Papers, 1863-1887, bMS 516. Harvard Divinity School Library, Harvard University). Skinner sempre se interessou pela ciência e foi membro fundador da Sociedade de História Natural de Cincinnati. Antes de completar 50 anos, James Skinner reformou-se da sua atividade de advogado, e nessa época, a sua família era claramente abastada, de acordo com os registos do censo de 1880. Nas décadas de 1880 e 1890, Cincinnati era um foco de pesquisa e atividade esotérica. A Sociedade Teosófica de Cincinnati, foi uma das primeiras filiais americanas, fundada por Jirah Dewey Buck (1838-1916) em 9 de maio de 1886, e em 30 de outubro, a Secção Americana da Sociedade Teosófica tomou forma. De acordo com a Cincinnati Theosophical Society Records, apesar de não existirem registos de James Skinner ligado diretamente à Sociedade Teosófica, existem sim algumas provas dele ter participado na vida desta organização de Cincinnati, pelo menos como palestrante. O reconhecimento pelos trabalhos de James Skinner, motivaram Jirah Buck a enviar uma cópia manuscrita completa a Helena Blavatsky, sobre a Cabala, o Zodíaco e a Grande Pirâmide de Gizé. James Skinner mereceu também uma referência no Glossário Teosófico, como autoridade cabalística, com a entrada Jehovah, o nome da divindade judaica composto por duas palavras, Jah (y, i, ou j, Yodh, a décima letra do alfabeto hebraico) e Hovah (Havah ou Eva). Jah é a transliteração para português de Yah, uma forma abreviada de Yahweh, que representa a pronúncia do tetragrama YHVH. Segundo o Glossário Teosófico, e de acordo com Skinner, de facto, quando Caim, o masculino ou Jah se ergueu contra o seu irmão Abel, e o matou, derramou o seu sangue, na origem. O capítulo IV do “Génesis” contém, na verdade, a narrativa alegórica desse período de evolução antropológica e fisiológica, mencionado na Doutrina Secreta, quando pretende tratar a origem da terceira raça, a raiz da Humanidade. Estes conceitos são objeto de desenvolvimento nesta obra de James Skinner, repetindo-os, persistindo nos seus significados imbricados, demonstrando uma sequência lógica muito consistente.

Este trabalho de James Skinner transcende uma imensidão de relações ocultas, que pôde desvelar por um conjunto de demonstrações geométricas e aritméticas, coadjuvadas com as investigações de outras fontes mais antigas. A possibilidade, de facto, que Skinner nos apresenta, da relação entre o antigo côvado e a polegada britânica é bastante circunstancial e determinativa, afinal, justificando que tudo tem uma origem, tal como o sistema de medidas. Consta-se que durante muito tempo, a tentativa de chegar ao valor da antiga medida do côvado revelou-se inútil, mas quando foi trabalhada a sua fonte de derivação, o mistério revelou-se. O côvado já tinha sido objeto de algumas referências, quando foram reunidos alguns dos resultados quanto à certeza dessa medida cúbica: o côvado de Elefantina, que alguns supuseram como o côvado egípcio, variando em diferentes períodos, consistindo em 24 dedos numa fase, e 32 dedos em outra, ou seja, mais especificamente, 24 dedos ou 6 palmos, e 32 dedos ou 8 palmos, utilizados em diferentes situações; o côvado de Memphis, que seria igual a 20.628 polegadas, segundo J. Y. Simpson (1868), na obra Is the great pyramid of Gizeh metrological monument?, Edinburgh: Adam and Charles Black; o côvado de Turim, a medição mais antiga, de 1638, a dos franceses, de 1799, as mais concordantes entre si.  Existem dez medidas inglesas do quilómetro que variam entre 20.573 e 21 polegadas, uma diferença de 0.427 de polegada, que indica que as marcas do côvado são muito obscuras. (Stephen Peet [1881-82], The American Antiquarian and Oriental Journal, vol. IV, Chicago: Jameson and Morse Publishers); o côvado de Karnak; o côvado de Sir Isaac Newton; sendo as mais importantes, segundo Gustav Seyffarth (1796-1885), as medidas da expedição francesa de 1799.

Nota de HPB para James Ralston Skinner na sua fotografia. Creative commons https://theosophy.wiki/w-en/index.php?curid=7536

A riqueza das fontes em Skinner é ampla e avassaladora, quando confronta o seu método de estudo e de investigação com as orientações e conclusões de outros autores. Estas constatações são testemunhadas na referência à relação da cruz ansata dos egípcios e a cruz cristã, uma manifestação emblemática da origem das medidas, a busca dos vestígios primordiais destes símbolos, as estátuas que exibem as marcas da cruz, segundo se pensa, e se encontram no Museu Britânico, o homem crucificado na América do Sul e as inscrições hebraicas nos montes americanos. Skinner demonstra ser adepto da verdade, quando refere que há alguns anos, um homem chamado Wyrick, persistente pesquisador em quadrados e círculos dos construtores de montes, em Newark, Ohio, descobriu duas pedras, cobertas com antigas inscrições hebraicas. Qual a relevância deste exemplo, para a obra de Skinner? De facto, Wyrick não era um académico pleno de literacia, pelo contrário, tinha um carácter de bondade, homem simples, iletrado, mas a sua reputação, conferia-lhe uma veracidade. Isso era o que interessava mais a James Skinner: a busca da verdade. Outros dados curiosos são explanados sobre estes montes, apresentados como emblemas tifónicos, ou seja, relativos a Tífon, da mitologia grega, um monstro de 100 cabeças sepultado por Zeus no Tártaro sob o monte Etna, que deu origem a muitos outros, incluindo o Cérbero, a Quimera e a Esfinge (Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse Seleções, vol. 3, Temas, 1982). Skinner pretende ir mais longe, quando estabelece semelhanças com a grande pirâmide do Egipto, de Gizé, os símbolos hebraicos, os montes que apresentam as medidas britânicas, a pirâmide azteca ou de construtores de montes, mostrando a utilização do valor 318, ou o diâmetro de uma circunferência de um, como número do calendário civil, os antigos machados de bronze dos fenícios, idênticos em forma, aos machados de cobre dos construtores de montes e as medidas terrestres e longitudinais britânicas, incluindo um sistema oculto de medidas de tempo coordenadas.

O verdadeiro estudo da Divindade pelo Homem está na observação das suas obras, a descoberta de uma lei criativa fundamental, em números e medidas, de alcance tão amplo e abrangente que coloca a substância dessa descoberta como o elo prático real e tangível, entre Deus e o Homem. Existem códigos na natureza que o Homem muitas vezes descobre, sem ter uma noção concreta dessa relação divina, pois em certa medida, as suas qualidades de trabalho emanam da necessidade de revelação da existência tangível, da semelhança, da correspondência, e do relacionamento, que tem em vista o desvelamento do conhecimento. Este vínculo, uma vez decifrado, constitui uma base para a criação de superestruturas de identidade, reconhecimento, louvor, adoração e reprodução. De facto, James Skinner estabelece um conjunto de inter-relações que visam desvendar um sistema fundamentado em toda a estrutura bíblica, também justificado como uma necessidade de ritualismo, através da exibição das obras da Divindade, em substâncias arquiteturais, como são os casos do Jardim do Éden, da Arca de Noé, no Tabernáculo e do Templo de Salomão.

Todas essas manifestações incluem uma série de desenvolvimentos, baseados na utilização de elementos geométricos, que dão expressão a um valor numérico. Esta fonte principal consta nos elementos encontrados no trabalho de John A. Parker, de Nova Iorque, apresentado na sua redescoberta, um valor de quadratura do círculo.  Tudo indica que este é uma variação do valor de Peter Metius, do século XVI, ou seja, uma relação muito aproximada de , entre dois números inteiros: 355 e 113. Parker faz uso de um elemento de medida do triângulo equilátero, como unidade de medida mínima, para expressar a medida dos elementos de um círculo, em termos do valor numérico de um quadrado: de modo que, um quadrado de 81 de lado, ou 6561 de área, deve conter um círculo cuja área seja igual a 5153; ou, retificando a circunferência, um diâmetro de 6561 deve ter uma circunferência de 5153×4=20612. Skinner não discute se esta questão do valor da quadratura, seja pelo método de John A. Parker, seja pelo de Peter Metius, é a expressão da exatidão da relação. A relevância destas relações quanto à quadratura do círculo, está focalizada na correspondência que tem com as substâncias de natureza divina, que se encontram identificadas nas Sagradas Escrituras, mas de forma encriptada.

De facto, James Skinner reconheceu no valor numérico 20612, o perímetro de uma circunferência que é usado para derivar uma unidade de medida, para medida linear, superficial e sólida. Assim, como uma unidade de medida comum é a aresta de uma das faces de um cubo, e como há doze arestas no cubo, a divisão de 20612 por 12 é a distribuição desse valor nessas 12 arestas, cujo quociente é 1717.66…, convertível em circular e novamente nos elementos geométricos de onde derivam. E isso é obtido pelo valor numérico especial, 1717.66…, o duodécimo de 20612, usado como um todo ou como parte, o valor 1.71766… que é conhecido como o pé britânico ou o antigo valor do côvado. James Skinner argumentou estas relações com a confirmação desses valores, em termos das medidas britânicas feitas no seu tempo, serem intrínsecos aos da Grande pirâmide de Gizé, do Egito.

James Skinner pretendeu decifrar todo o sistema que parece ter sido antigamente considerado como uma réplica existente na natureza, ou concebido por Deus, como a base ou lei da exortação do poder criativo, ou seja, este autor foi em busca das aplicações do design criativo divino. As fórmulas de John Parker foram relevantes para estabelecer as medidas dos tempos planetários que servem coordenadamente, como medidas do tamanho dos planetas e da peculiaridade de suas formas, isto é, na extensão de seus diâmetros equatorial e polar, em termos das medidas britânicas, ou as medidas dos côvados decorrentes.  Afinal, conclui Skinner, que todos os assuntos da ciência se subordinam a qualquer outro de natureza divina, e através do esforço do seu desenvolvimento, o Homem aspira alcançar ao conhecimento realizável por Deus, considerando que todas as coisas nesta sua obra da Origem das Medidas, são de pouco valor em muitos outros aspetos, exceto quando conduzem à constatação real e exata do conhecimento divino. A natureza foi considerada como fazendo uso dessa relação numérica, como uma lei ou aplicação de números a medidas, através da qual construíram as propriedades mecânicas do universo. A regulação dos tempos dos planetas para que se movam expressando um sistema numérico, é consentânea e coerente com a medida das suas formas, definida e adaptada ao próprio sistema, de modo que o movimento deveria coordenar-se com o tamanho sob o mesmo sistema. Para Skinner o Homem obteve o conhecimento da medida prática, a polegada britânica, pela qual a natureza foi pensada para ajustar o tamanho dos planetas para harmonizar com a notação de seus movimentos, como o meio da sua realização da Divindade, por outras palavras, o Homem aproximou-se da conceção de Deus, com a sua mente compatível com a Divina, porém sem a capacidade infinita e omnisciente para realizar uma lei da Criação supremamente estabelecida, pré-existente a qualquer criação, chamada cabalisticamente de Verbo. O conhecimento assim obtido está patente na linguagem das medidas e na sua conexão com os seus usos, através da realização e expressão dos seus elementos geométricos.

Este conhecimento quanto à sua origem, interpretação e uso, pela sua natureza tão oculta, é acedido por muito poucos, e não sendo massificado, torna-se objeto de muitas críticas e desconfianças. Quando é divulgado começa de uma forma secreta ou muito obscura, recorrendo a símbolos ou à escrita hieroglífica, cujo método é o peso característico da Bíblia hebraica. A outra expressão liberta-se nas formas geométricas da exibição arquitetónica, tendo como exemplo típico, a Grande Pirâmide do Egito, seguida do Templo de Salomão. Skinner seguiu convicto que a restauração desta pirâmide de acordo com o projeto do arquiteto, disponibilizará os meios de tradução dos significados hieroglíficos da Bíblia hebraica, pois ambas definem os mesmos problemas naturais, uma pela construção e a outra pela escrita. Secundariamente, Skinner pensa que se deve mostrar a apetência arquitetónica do Templo, em estabelecer as mesmas medidas com as da pirâmide. É este trabalho que James Skinner persegue insistentemente, quando repete esse equilíbrio anotado aqui e ali no texto, na relação existente entre 6561 e 20612, que se encontra tanto na estrutura piramidal, quanto na Bíblia, juntamente com a fórmula 113 e 355.

Em torno destas exibições reais, a descrição foi transmitida pela leitura hieroglífica às narrativas da Sagrada Escritura. A doutrina puramente divina, não se compadece com histórias comuns e palavras frívolas, se assim fosse, em todos os tempos, teria sido possível transferir qualquer doutrina natural, em palavras quotidianas, globalmente aceitáveis, de modo que lhe fossem reconhecidos merecidos elogios. O conhecimento secreto ou oculto, não é desvelado para receber elogios das massas, em exclusividade, pois essas doutrinas têm inerente a exigência da elevação moral, espiritual e transcendental. Deveremos crer que cada palavra dessas doutrinas contém uma particularidade acrescida, encerrando em si, um sentido da maior elevação e um significado mais alto e supremo. As suas narrativas são a superficialidade, e os olhos comuns apenas conseguem contemplar uma vestimenta, porém o seu mundo é muito mais profundo, somente ao alcance daqueles que buscam as suas entranhas, aqueles que conseguem romper a vestimenta e absorver esse mundo de relações, identidades, correspondências, das manifestações encriptadas. Mas como esta tradição não é publicada apenas para aquele que perceciona a magnificência da palavra, é então, preferível transformar num mistério a sabedoria falada, cujo descobrimento será velado pelo tempo.

James Skinner acredita que nenhum Homem pode estudar a Bíblia durante muito tempo, observando cuidadosa e desapaixonadamente o seu lugar no mundo, a sua envolvência, as narrativas e orientações proféticas, sem chegar à convicção de que um Poder e Providência Divinos, regem a nossa Consciência Coletiva, animizada e harmonizada com o seu Criador, e assim, poder receber a conformação da superioridade, sabedoria e poder, para entender cada sequência em todo o universo, por mais ínfima e limitada que seja. Os acontecimentos cegos e acidentais são deste modo compreendidos face ao grau da ignorância do Homem, porque ainda se arroga bastante, à sua superioridade acidental, ou seja, quando não sabe explicar, reserva-se no argumento do acaso. Mas quando vai tendo a noção muito particular, da sua própria pequenez e inferioridade perante a Criação ou a Natureza, é impelido a desbravar o caminho do conhecimento, dando conta da frequência de novas posturas reativas, face às manifestações que se enquadram no termo geral de Deus ou da Natureza. Os compiladores do Livro Sagrado eram seres humanos como nós, que conheciam, viam, lidavam e entendiam, na medida certa, a lei do Deus vivo e sempre ativo, cujas narrativas bíblicas não foram inventadas propositadamente para enganar as massas ignorantes, pois impunham um código de obrigações morais ajustadas àqueles tempos. Skinner levanta questões: como é possível justificar fraudes tão grandes, como parte de uma economia Divina, quando a essa economia, o atributo de simples e perfeita veracidade deve ser atribuído na natureza das coisas? O que tem, ou o que, por hipótese, deveria ter o mistério, com a promulgação das verdades de Deus? Insistiu Skinner em sublinhar que foram Homens como nós, capazes de ensinar as multidões, os quais possuíam esse conhecimento, tanto no tempo do Antigo como no do Novo Testamento. Se é que esse conhecimento se perdeu, quando é que se perdeu? É provável que a Igreja Grega e o sistema brâmane também se incluam nesta categoria. Não há dúvida de que as regras para o cálculo de tabelas de tempo, para marcar a devida observância de festivais religiosos, cujas tabelas são prefixadas no Livro de Oração Comum, são precisamente as mesmas que são encontradas nos primeiros capítulos do “Génesis”, relativas à fundação dos valores do ano em tabelas lunares. Segundo Skinner é mais que natural a transferência de conhecimento, considerando que o cristianismo está quase indubitavelmente em dívida, para com as antigas regras do calendário judaico e egípcio, com base nas quais, construiu os pormenores especiais e excecionais das suas próprias formas.

Régua de medida egípcia. Museu do Louvre, Paris. Creative commons

Uma das provas mais notáveis da existência desse conhecimento, da fundação desses mistérios nas relações de John Parker e de Peter Metius, entre o perímetro da circunferência e o diâmetro de um círculo, conhecido nos nossos dias pela letra grega π, parece ter tido um interesse demonstrado tardiamente, avaliando pelas resoluções estranhas aprovadas pelos eruditos da Academia de Ciências de Paris e da Royal Society de Londres. Foi no período do Renascimento, quando o mundo viu nascer intelectos extraordinários e totalmente sedentos de aprendizagem, regressaram à investigação de todos os recantos e departamentos da natureza, reconhecendo o facto de que nesta entidade, uma das relações mais interessantes era a da forma circular com a forma plana, e o fluxo de uma para a outra. O Renascimento sentiu esse chamamento da investigação persistente, em busca dos domínios mais obscuros da ciência, ou para sermos mais precisos, da filosofia natural. Um exemplo evocado por James Skinner está relacionado com a apresentação feita pelo matemático Adrien-Marie Legendre (1752-1833), do seu reconhecido valor aproximado de π, que mereceu da Academia de Ciências, a aprovação da famosa resolução, de que nunca se ocuparia de qualquer tese sobre o tema da quadratura do círculo. Curiosamente, revela Skinner, por que razão, alguns anos mais tarde, quando John Playfair (1748-1819) seguiu os passos de Legendre, a Royal Society de Londres aprovou, talvez, uma cópia das mesmas resoluções? Desde então, todos aqueles que se atreveram a aventurar-se nesta espécie de campo proibido de investigação, têm sido silenciados, gozados e ridicularizados, por um misterioso consenso comum. Reconhecemos a mesma metodologia na Doutrina Secreta, de Helena Blavatsky, quando assinala o esforço dedicado de James Skinner na abordagem às teorias científicas da época, e simultaneamente, denunciando essas posturas duvidosas em diversas áreas do conhecimento. As chaves desses velhos mistérios eram e são ainda conhecidas e detidas por muito poucos, e que ao mesmo tempo sejam reconhecidos pelos mais altos signatários das ordens instituídas, pois tais resoluções uma vez promulgadas por essas sociedades, remetem para uma obediência que deve ser pronta e zelosamente executada.

 Naturalmente que Skinner não se referia aos temas de investigação que ainda hoje têm seguidores, como os defensores da teoria da Terra plana; a sua tónica está profundamente ligada ao conhecimento oculto manifestado em tempo mais remotos, que mantêm uma manifestação direta com a origem ou fonte e razão para o seu ritualismo. Este ritualismo não era uma coisa vazia, pois a adoração da Divindade era simplesmente uma memória constante da dependência do Homem da sua ligação com a Natureza Criadora ou Deus, e com o seu conhecimento, segundo James Skinner. A adoração era a expressão sob esta ou aquela forma, por gesto, ação, sinais, voz, traje, acompanhada de símbolos visíveis de uma ou mais das formulações matemáticas exatas, ou formulações geométricas, ou combinações numéricas, pertencentes ao método conhecido de medir as obras da Divindade. James Skinner reforça esta sua interpretação com uma conclusão de Sir William Drummond, em Oedipus Judaicus: Os sacerdotes do Egipto e da Caldeia, diz ele, tinham feito um progresso na ciência da astronomia, que será considerado mais surpreendente quanto mais for examinado. Os seus ciclos foram calculados com uma precisão extraordinária e o seu conhecimento das partes mais importantes da astronomia, deve parecer evidente a todos os que consideram a questão com sinceridade. Mas o público parece ter sido propositadamente deixado numa ignorância grosseira sobre este assunto. Os seus anos vagos e os seus anos rurais não estavam corretos. Os festivais eram fixados de acordo com calendários feitos para o público, e as instituições religiosas só serviam para confirmar os erros dos ignorantes. As verdades da ciência eram os arcanos dos sacerdotes porque eram as fontes do culto religioso. Assim, o ritualismo era um rito inteligível, um rito a ser compreendido em todas as suas partes e ramificações; um rito em que não havia engano possível quanto ao uso de um símbolo, para aqueles que podiam ler o símbolo. Não há perigo, nem nessa altura, de prestar culto à coisa. Um carpinteiro poderia tão facilmente ser ensinado a prostrar-se diante de sua faca ou plaina, quanto um religioso diante dos instrumentos, com os quais copiava as somas de seu Pai no céu. Intrinsecamente, uma seria tão insensata e infrutífera de bons resultados quanto a outra. Tem sido finalmente, a extinção quase perfeita e gradual do conhecimento da origem do ritualismo, por parte dos próprios sacerdotes, que implicou um uso supersticioso por parte dos leigos.

A exposição dos factos nesta obra de James Skinner, e a explicação dos seus usos correlativos, constituem um conjunto de interdependências temáticas muito complexas, disso não temos dúvidas. A identificação dos valores numéricos presentes na Bíblia Hebraica, as relações geométricas estabelecidas, a conjunção com os argumentos cabalísticos, a interjeição da língua hebraica e a constatação de múltiplas manifestações ocultas nas grandes construções, fazem-nos concluir sobre a sagacidade e a inteligência de James Skinner na elevação desta obra, numa época de grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos, e de afirmação de vários ramos do conhecimento, sem esquecer a emergência da corrente positivista do pensamento, a par do surgimento das manifestações espirituais. Esta obra nascida em 1875, seria hoje um grande desafio para o mundo editorial, reconhecendo as enormes dificuldades e obstáculos, na sua primeira tradução para a língua portuguesa. Embora os seus elementos usados na Bíblia, sejam racionais e cientificamente consistentes, que ninguém considere que com esta descoberta haja um corte de espiritualidade da intenção bíblica ou da relação do homem com este fundamento espiritual, esta é a expressão de Skinner. Os conhecimentos revelados, na medida da sua capacidade de realizar um sistema, proveem do sistema criativo eterno de Deus, o qual está em permanência aberto ao Homem, cabendo a este o despertar para a sua harmonização, quando encontre os requisitos existenciais para desencadear tais mecanismos. Diz-nos Skinner que este comportamento é tão necessário como a água que bebemos e o ar que respiramos, porém, espiritualmente, para o Homem, o valor deste assunto reside na contemplação, a forma de ultrapassar toda a construção material do cosmos e passar para o verdadeiro pensamento e mente de Deus, ao ponto de reconhecer este sistema de conceção cósmica, mesmo antes das palavras proferidas.

Esta obra de Skinner vem-nos fornecer a determinação da alma eternamente vivente do Homem, uma constatação da existência e do funcionamento da mente Divina, que nos orienta no ritmo da evolução, mostrando realidades tangíveis nessas manifestações divinas, como por exemplo, por meio do pequeno cubo primordial e do seu círculo, símbolos que ocultam tantas correspondências e identidades, e que cruzaram tantas civilizações, como querendo manifestar a sua valoração cósmica. O que James Skinner se propôs fazer com esta obra é estabelecer um método para encontrar a verdade, apenas um método, entre muitos que nem conseguimos imaginar. Mas a sua tentativa é merecedora de elevado reconhecimento, pois os resultados são manifestados, através de um rol de congruências, harmonias, correlações e reciprocidades que encontram eco na projeção cósmica, por intermédio de manifestações numéricas e geométricas. Esse acabou por ser um dos veículos mais autênticos da comunicação entre Deus e o Homem, que Skinner identificou na linguagem da Bíblia hebraica, embora com expressões correspondentes na Grande Pirâmide de Gizé, onde parece estar preservada a operacionalização do segredo bíblico. Para James Skinner, esse segredo bíblico revela a preservação da medida primordial real, que a sua obra demonstrou ser a polegada britânica.

Senhor Deus de uma humanidade comum! Solta os grilhões dos corpos e expande as almas dos homens. Que a liberdade seja a semente, e que a sabedoria, o amor, a paz, mas, sobretudo e antes de tudo, a caridade, sejam a colheita. E então, QUE ASSIM SEJA

(James Ralston Skinner).


Imagem de capa

Composição MpF gerada por IA

Imagem no artigo

As Pirâmides de Gizé. Oisin Mulvihill. Creative commons

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