O mundo atual, mergulhado naquilo a que os Iniciados do Oriente chamam Kali Yuga, ou Idade de Ferro, tem uma noção fragmentada de alguns tópicos transcendentes da sua evolução. Esta noção está condicionada por fatores temporais pois o ser humano, ao invés de espiritualizar a manifestação objetiva, transpõe a mecânica grosseira da matéria para as esferas superiores da consciência, desejando medir e pesar o que não pode ser medido nem pesado, pelo menos empregando técnicas tão inapropriadas.
Mas existe um conhecimento que não se altera em poucos anos, nem se contradiz a si mesmo; um conhecimento seguro, altamente empírico e prático, que une a fé e a ciência numa única manifestação: a Sabedoria Celeste ou Teosofia, conhecimento gigantesco onde o nascimento e a morte das civilizações, culturas e formas religiosas são tão efémeros como para o homem comum o é a vida dos organismos microscópicos que compõem as suas células.
Tal Sabedoria é o Património que humanidades anteriores de mundos já desaparecidos nas profundezas do tempo legaram à atual, habitante desta Terra, ponto armilar no grande mecanismo do nosso Cosmos. A tal categoria pertenciam, por exemplo, os ensinamentos oferecidos pelos Mistérios da Escola Pitagórica, berço direto da nossa atual Civilização Ocidental. O esotérico símbolo da Tétrada Pitagórica é uma manifestação sintética daquela.
Para compreendê-la, mesmo que nas suas linhas gerais, é-nos verdadeiramente necessário estabelecer, de forma clara, a distinção que existe entre a Vida e a Forma; isto, diz H. P. B. “é o elo que une os símbolos entre si, segurando-os, fornecendo um meio seguro de referência mental”.
Mas, o que é a Vida? É impossível colocá-la numa gaveta mental. Ela é a Causa da Manifestação, a Vontade da qual só vemos as pegadas dos seus passos sobre a lama do mundo. É aquilo que se move por si mesmo, dentro de um todo imóvel e cuja sombra se traduz à nossa perceção através da Forma, raiz matemática da Geometria da Natureza. A Vida, pois, para a nossa pobre perceção é o Desconhecido Passageiro de todos os veículos.
Assim, Pitágoras expressava a Enigmática União num Triângulo, dentro do qual colocava 10 Yods ou Pontos Viventes, expressão de todo o universo. Em alegorias recolhidas em todos os países e em todas as épocas, encontramos em diferentes equações 10 personagens: 3 brancos e 7 de diferentes cores.
Tais relatos não são apenas “contos” mas sim verdades transcendentes veladas aos olhos vulgares, tal como se protege a frágil retina de uma criança pequena da luz demasiado intensa de uma lâmpada, uma vez que, com natural ignorância, não sabendo utilizá-la para iluminar o seu trabalho, fixa o olhar na luz, encadeando-se e pondo em risco as suas potencialidades latentes ainda não desenvolvidas. E assim como os pais velam por elas, os Pais Espirituais dos Povos temperam a Verdade e reduzem a sua força às capacidades actuais de utilização para, gradualmente e à medida que o mereçam, irem removendo os véus um a um.
Na figura vemos a Tetrakis cujo triângulo é a base de um tetraedro que, para fins didáticos, foi desenhado em perspetiva. O triângulo simboliza a Área Cósmica e os 10 Yods são os Números Regentes de toda a manifestação. O apêndice oculto, pretende expressar o UNO do qual TUDO provém.
O estudante deve meditar profundamente sobre esta primeira parte dos ensinamentos, pois no que se escreveu acima escondem-se vários pontos de partida em direção a interessantíssimas expansões da consciência.
Desta forma, tire as suas próprias ilações e compare-as com o que lhe será oferecido adiante. Medite intensamente na profundidade serena desse Eu interior que todos temos; silencie as tagarelices da mente inferior e escute, escute atentamente. Sem se apegar a nada, permaneça imperturbável e preparado para compreender o novo e voltar a meditar profundamente relativamente aos 10 Yods, representados na imagem acima, devemos observá-los cuidadosamente. Após alguma reflexão, eles dividem-se de forma natural, a saber:
1. O Yod central;
2. Seis Yods em círculo rodeando o central.
3. Três Yods, um em cada ângulo, fora do círculo.
Os três Yods referidos em último são mutuamente equidistantes e conservam a mesma distância relativamente ao ápice oculto. Aí temos “os três brancos” da alegoria, símbolos da Trindade, os três aspetos do UNO.
O Yod central mantém-se absorto, solitário. É o reflexo na Tetraktis do vértice oculto diretamente impactado. O seu simbolismo corresponde ao Aspeto Negativo do UNO: a Imaculada Virgem do Cosmos, Aditi, Ki, Isis, Devaki, etc.
No seu seio e por seu intermédio tem lugar a manifestação. De certa forma é o Éter, reflexo do Pai-Espaço. Este termo não significa, na Doutrina Secreta, o que o estudante comum imagina, não é um “lugar vazio” mas antes uma abstração hipermetafísica, ontológica, inatingível e ininteligível para a mente concreta. Da mesma forma, o seu reflexo, denominado Virgem Cósmica, é suficientemente arquetípico para que a mais perspicaz mente filosófica e a intuição mais refinada apenas tenham vagos e imprecisos vislumbres. Na verdade, o espírito e mesmo a letra dos ensinamentos compilados por H.P. Blavatsky vão muito mais além das versões correntes que apenas relacionam com o conceito cristão da Virgem, como um Ser Pessoal adornado com as mais excelsas e românticas virtudes concebidas pelos humanos. Isso pode ser muito belo e estar em consonância com o sentimentalismo do nosso decadente conceito ocidental de religião, porém, é muito inexato e parcial.
A própria H.P. Blavatsky aproveitou boa parte da sua obra “Ísis sem Véu,” para demonstrar que, primeiro os Hebreus e depois os Cristãos, seus herdeiros, nunca detiveram mais que DUAS das SETE chaves dos Mistérios, e isso nos seus melhores dias. A deificação da “Virgem Maria” provém do século XIX, e confundir-se a mãe do Avatar Jesus com a “Virgem-Mãe Cósmica”, enquanto Natureza Primordial, é tão absurdo como acreditar que a mente de um Einstein e a Mente Divina são o mesmo quando, na realidade, a Grande Mente reflete-se, de forma mais ou menos imperfeita, em tudo aquilo que pensa, tal como a Grande Mãe está personificada em todas as mulheres e em todos os seres do sexo feminino, sejam eles animais, vegetais, metalóides, etc.
Logicamente, os partidários dessa crença defenderão o princípio da precedência de “Nossa Senhora” a mãe de Cristo (C.W.L), porém, Cristo é uma palavra derivada de Chrestos (Lactâncio, liv. IV, cap. VII), nome dado aos profetas e adivinhos pelos Gnósticos. Segundo H.P. Blavatsky no “Glossário Teosófico”, nos Mistérios Iniciáticos Chrestos significava “candidato” e Christos “Iluminado” ou “Iniciado.” Portanto, todos os Sábios e Iniciados, em especial os Mestres e Avatares, merecem as mesmas honras e, por extensão, serem as suas mães equiparadas à Grande Mãe Cósmica. A antinomia de tal aplicação é evidente.
A manifestação, tal como a racionalizamos, é dual na sua atividade sobre e por meio da Trindade, a saber, o Espaço e o Éter ou Mãe Cósmica. Neste caso, a Tríade representa o Aspeto positivo do UNO e o Éter o negativo. Temos, inclusivamente, a antiquíssima dualidade de Vida-Forma em Purusha e Prakriti; ao representarmos a sua interação nos nossos símbolos, podemo-lo supor para o propósito da manifestação.
podemo-lo supor para o propósito da manifestação. Cada Yod branco projeta-se a si mesmo e torna-se ativo. No interior, o Yod central, descendo, assume os limites impostos pela forma. Através deste processo, cada um se torna manifesto nos planos inferiores como uma dualidade, mas cada um se expressa o inferior na vida e na forma. Estas três dualidade ou pares são representados pelos seis Yods à volta do centro. São alegoricamente coloridos e podemos observar como os três conhecidos pares de cores complementares confirmam este facto.
Medite o Estudante sobre estes comentários e retire as suas próprias conclusões.
Retirado de “Estudios Teosoficos” nº 7, Janeiro 1960 e nº 9, Outubro/Novembro 1960
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