Como se Conecta a Matemática com a Espiritualidade

1 Manuscrito em folha de palmeira dos Vedas. Creative Commons

Uma contribuição ao mundo da matemática vem dos Vedas, os livros sagrados do hinduísmo; é uma lista de dezasseis aforismos ou sutras:

  1. Por um mais que um antes.
  2. Todos de 9 e o último de dez.
  3. Na vertical e em cruz.
  4. Transposição e aplicação.
  5. Se o Samuccaya é o mesmo, é zero.
  6. Se um está em proporção o outro é zero.
  7. Por adição e por subtração.
  8. Por finalização ou não-finalização.

A revelação atual do uso matemático dos Vedas veio, nos inícios do século XX, de um jovem swami chamado Bharati Krishna Tirhtaj. Foi uma criança prodígio, licenciado em sânscrito, filosofia, inglês, matemática, história e ciências, pela idade de 20 anos, e possuía o dom da palavra. Nomeado Shankaracharya (uma das posições de mais alta classificação dentro da sociedade tradicional hindu), em 1925, pronunciava sermões como guia espiritual e promovia um método de cálculo proveniente dos Vedas, apesar de dizer:” A relação com a matemática só é detectável a partir de uma revelação intuitiva”.

Um dos aforismos matemáticos dos Vedas mais simples, é o segundo: Todos de 9 e o último de 10. É usado para subtrair um número qualquer de uma potência de 10. Trata-se de subtrair os primeiros números de 9 e o último de 10. Quantos mais dígitos tiver o número mais útil é a regra. Por exemplo, 3478 subtraído de 10000.

10000-3478, subtrairá 3 de 9, 4 de 9, 7 de 9, e 8 de 10. A resposta é 6522.

Àqueles que lhe perguntavam se os sutras dos Vedas tratavam de magia ou de matemática, respondia: “É magia até que o entendas, e é matemática a partir desse momento”.

Uma vez adicionou um conto: Dois reis hindus encontraram-se num bosque. Um rei disse ao outro que podia dizer quantas folhas tinha uma arvore só de a olhar. O segundo rei pôs em causa, e dispôs-se a arrancar as folhas da arvore para contá-las uma a uma. Quando terminou, obteve o número exato que tinha determinado o primeiro rei. Esta história é testemunho que os indianos antigos eram capazes de contar grandes quantidades de objetos olhando-os como um todo.

Estas e muitas outras habilidades tinham-se perdido, mas foram recuperadas por Tirthaji. Com a idade de 82 anos, em 1958, visitou os Estados Unidos, viagem que foi motivo de controvérsia no seu país natal, porque não poderia viajar ao estrangeiro como líder espiritual, e motivo de espanto no Instituto Tecnológico da Califórnia, onde uniu números e metafísica com espírito lúdico.

Shankaracharya. Creative Commons

Se nos perguntarmos como se conecta a matemática com a espiritualidade, podemos recorrer à resposta que uma vez deu Shankaracharya. Depois de uma grande reflexão, enunciou: “A criação, a perdurabilidade e a destruição do universo sucedem de uma forma muito matemática. Não diferenciamos entre matemática e espiritualidade. Consideramos que a matemática é a fonte da filosofia indiana.”


Publicado na revista Esfinge em 30 de abril de 2020

Partilhar

Leave a Reply