Do centro à circunferência

Texto retirado do livro "O Interesse Humano." Do centro à circunferência e da circunferência ao centro é o processo total do cosmos. É uma vasta vibração, uma expansão e uma contracção, com o seu Tattva e Tanmatra (qualidade e medida) dentro da qual se desenvolvem vários e infinitos desenhos, cada um centrando-se ao redor do ponto de uma individualidade.
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Este símbolo cósmico – porque tudo na Natureza que é fenomenal, susceptível a descrição, é um símbolo – tem diferentes graus de significado que se estendem desde o indivíduo até ao cosmos.

O indivíduo é o centro e, à medida que nos elevamos de plano a plano, a pluralidade de indivíduos torna-se uma unidade, que é Atman, o Ser universal, sempre indivisível. Do ponto de vista da verdade, que é visão sem quaisquer escalas, a pluralidade é somente de aparência, uma ilusão, o reflexo da luz na sala de espelhos.

Quando dizemos indivíduo, o que é que queremos dizer? Existe a individualidade do eu e do egoísmo e existe individualidade que é a corporificação, a iridescência, a objectivação de uma unicidade que é uma essência espiritual. Essa unicidade é a Mónada, a primeira emanação da Unidade, a base de todo o desenvolvimento subsequente.

A consciência da Mónada, embora limitada, é ininterrupta, mas chega a um ponto em que se torna propensa ao jogo dos opostos: um aspecto permanece na luz e o outro move-se nas sombras, de lá vem a dualidade da mente. Ao perseguir a forma, o externo – a aparência, a circunferência exterior de cada coisa – neglicencia a vida, a alma, a realidade dessa coisa. A circunferência é uma limitação, um continente. No seu exterior está a aparência, o aspecto objectivo concreto, no seu interior está a relação com o seu centro, a ideia, a vida especializada que é expressa. No exterior da circunferência, que não é nada mais que uma linha inexistente, há uma forma em cada ponto; no interior, no mesmo ponto, está a ideia que anima a forma, a verdade dessa coisa, que é também sua bondade e a alma da sua beleza.

N. Sri Ram (1888 – 1973)

Quando a relação do centro à circunferência é correcta, completa e perfeita, a forma é perfeita. O que é perfeito em seu funcionamento e em seus efeitos, é bom e belo. Não há regra de beleza por meio da qual o belo se possa definir. Mas a partir do ponto em que estou a falar, só é belo aquilo que parece ser um sentido puramente intuitivo, que não compara as diferentes partes, mas inclui instantaneamente o todo, um sentido no qual as partes e suas relações são naturalmente compreendidas.

A beleza pertence à totalidade, e menos à parte, embora a parte também possa ser bela porque é uma totalidade em si mesma. A beleza encontra-se em perfeita integração, seja de movimentos, cores, linhas, sons, de processos da vida ou termos lógicos. Integração é a entrada de uma multiplicidade numa unidade, a manifestação do centro dentro da circunferência.

Do centro à circunferência há um processo de diferenciação. Mas cada parte diferenciada tem a sua relação com o centro. A ideia, o significado, o propósito, que é o centro, encontra-se presente em cada parte ou elemento diferenciado. É a presença da qualidade de vida pertencente ao todo que possibilita a síntese ou integração. Porque vida pode combinar-se com vida, consciência pode misturar-se com consciência: a vida e a consciência são plásticas e vitais.

A síntese deve ser imaginada não como um agrupamento mecânico, mas como a integração da vida. Os Homens Perfeitos de cada Raça, de cada Ronda e de cada Cadeia[1]da Evolução, são integrados assim. Isso é difícil de imaginar porque contemplamos o processo com as nossas mentes formais e separativas, em vez de usar a nossa consciência unificadora e vital. Mas isso dá-nos uma ideia do que acontece no ciclo de retorno, que é diferente do ciclo de ida.

A contraparte da integração é a criação: o surgimento de uma nova ideia. Toda a ideia perfeita, cada percepção perfeita, é uma individualidade. A essência desta individualidade é a sua totalidade, o seu conteúdo, o seu absolutismo. As criações do nosso ser subjetivo são as individualidades que carregam a marca e o selo de perfeição que está naquele ser, que é esse ser. Do centro à circunferência está esse impulso radiante que é incorporado num acto perfeito, numa criação, de uma forma ou de outra. Referimo-nos ao Espírito Divino como o Espírito Criativo e o homem que encontrou o seu centro e age a partir daí, também é capaz de criar.

Todo o senso de beleza é criado por uma integralidade de relacções que, analisadas de qualquer forma entre mais e mais partes, criam assim uma extensão através da análise, uma expansão que não é aparente à primeira vista, inclusiva ou integral, que prova ser mais completa e abrangente. Não será essa mera análise, ou diferenciação, a infinita emergência de espécies, individualidades e subespécies, na objectiva evolução que estamos em posição de estudar?

O mundo é a circunferência. No coração do homem está o centro. Ele tem que estabelecer uma relação viva entre os dois. Essa relação é comparativamente estática quando a circunferência é estreita e o homem é o centro do seu pequeno círculo. Torna-se infinitamente dinâmico segundo a circunferência vá incluindo todas as coisas e o seu centro é um com o centro do círculo da existência universal. A forma é relativamente estática e todas as formas estão na circunferência. A vida é dinâmica e o centro é o centro da vida. Assim, a relação do centro da circunferência, quando o centro é tocado pela consciência que se move desde a circunferência, é uma relação dinâmica (…).

Da circunferência ao centro está a reação de cada um às circunstâncias da sua vida. Quando a reação é direta, ela passa pelo centro, que é o próprio coração do seu ser.


[1]Raça, Ronda e Cadeia são termos da Doutrina Secreta de H. P. Blavatsky que designa ciclos ou estádios evolutivos das formas, da vida e da consciência. (N. do Editor)
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1 comentário

  • Gerardo de Magela Vasconcelos Arruda

    Do centro da circunferência se irradia para os raios e direções da circunferência a dor; a Luz e o Amor. A circunferência é a perfeição, é a centralidade do Ser e do Existir

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