Génese do Infinito

Em cada categoria de quantidade há uma ou várias formas de combinação consigo mesmas, de cada um dos três elementos ou aspectos fundamentais: zero, unidade e infinito. O conjunto de todas as combinações possíveis da unidade consigo mesma, é o infinito.

O zero, uma forma perfeita muito simples que combina consigo mesma, gera a unidade, a forma de perfeição superior. A unidade combinando consigo mesma, ou seja, em movimento, cria inúmeras formas de um tipo perfeição superior, uma infinidade inesgotável de números, cuja totalidade é integral, uma perfeição transcendental, um infinito, o conjunto de todas as combinações possíveis.

Esse infinito, por sua vez, é o zero de outra categoria de quantidade, que gera uma nova unidade e esta um novo infinito. Assim a cadeia de evolução continua indefinidamente, cujas ligações são todas as formas perfeitas, os limites das formas imperfeitas.

O que complica e dificulta a leitura contínua do livro sobre a génese das formas, é o facto de que quando o zero se combina consigo mesmo, não surge uma única nova categoria de quantidade, mas sim um par ou vários pares de categorias de novas quantidades.

Por exemplo, o zero da extensão, ao mover-se, o ponto matemático não só cria espaço, mas também dois pares de novas quantidades: o par espaço–pensamento, e o par tempo–força.

Portanto, todos os infinitos correspondem a várias formas e aspectos da perfeição da quantidade, e são assim, parcialmente integrais desta categoria de quantidade, que contêm em si todas as outras.

Todos estas quantidades inextensivas absolutas existem dentro do ponto matemático sem ocupar espaço ou tempo, vivem e movem-se dentro do mundo do inextensivo ou invisível com vida própria, com personalidade independente, como actores ensaiando o que depois será representado no palco do mundo visível.

Todo o racional que consideramos estar em quietude dentro do ponto matemático inextenso, não parece imóvel, porque o seu movimento corresponde a uma categoria diferente do movimento que observamos no mundo do espaço, e não conseguimos formar uma ideia de tal movimento, a menos que, o comparemos com o movimento das ideias dentro do nosso cérebro, movimento que, aparentemente, é independente do espaço.

Portanto, se todas essas quantidades inextensas vivem e movem-se, se todos esses integrais estão ligados entre si por uma evolução, da qual são uma cópia e resultado da evolução no mundo extenso ou visível, haverá um absoluto de todos os integrais, um infinito de todas os infinitos inextensos possíveis, uma perfeição absoluta, resumo de todas as perfeições inextensas possíveis, da mesma forma que no mundo da extensão existe a natureza como um integral de todos as integrais de todas as quantidades extensivas possíveis.

Compreendemos portento, que a evolução principia com a quantidade de perfeição absoluta que, combinando-se consigo mesma, gera outras categorias de quantidade, que para nós não são menos difíceis de compreender, como: o amor, a vontade e o movimento. Por exemplo: acreditamos que a evolução das quantidades inextensas termina no ponto matemático inextenso vivo, o qual contém em acto toda a virtualidade do racional, e em potência todo o real, todo o mundo da extensão com as combinações infinitas do espaço consigo mesmo, do tempo consigo mesmo, e do espaço com o tempo, cuja combinação resulta na força de todas as combinações que constituem a natureza.

Entendemos que a primeira linha da tabela pitagórica de todas as coisas possíveis está ocupada pela quantidade da perfeição, ou seja. pela série seguinte de termos: zero, a unidade, 2 . 3, 4… e todos os outros números da perfeição e o infinito.

O zero da perfeição absoluta, é o zero comum a todas as quantidades, o não ser.

A combinação do não ser consigo mesmo, ou seja, a relação entre duas posições distintas do não ser, é a linha recta metafísica, a perfeição absoluta de todas as combinações possíveis do não ser consigo mesmo, a unidade por excelência, o ser.

As combinações do ser consigo mesmo, do primeiro uno consigo mesmo, da linha recta metafísica consigo mesma, são os números infinitos da quantidade de perfeição, os arquétipos de todas as coisas perfeitas possíveis, formas limite de todas as formas imperfeitas imagináveis, ainda que impossíveis.

A síntese de todos os arquétipos possíveis de perfeição. o espaço metafísico que os contém, o conjunto de todos os números da quantidade de perfeição, o integral de todos os integrais possíveis, é o infinito da perfeição, é Deus.

A simetria entre o mundo invisível inextensivo e o mundo extenso ou visível, é tão perfeita que há uma equação entre os limites de um e os limites do outro.

O mundo do invisível contido no ponto matemático inextenso, podemos imaginá-lo como uma nova categoria de espaço inextenso contido no ponto matemático inextenso.

Deus, em relação aos arquétipos de todas as coisas perfeitas possíveis, da unidade do ser e do nada do não ser, em que o espaço extenso é em relação à natureza, ao átomo, à primeira unidade material, e ao ponto matemático, é a superioridade que a esfera tem sobre seu raio e sobre seu centro.

O não ser está para o ser, assim como, o ponto matemático está para o átomo.

O não ser está para Deus, assim como o ponto matemático esta para o espaço infinito.

As estrelas, os minerais, os vegetais, os animais, os homens, as humanidades siderais, estão para o espaço, assim como os arquétipos das perfeições do racional estão para Deus.

O ser está para Deus, assim como o átomo está para a natureza.

A quantidade da perfeição é tão independente do tempo quanto do espaço, tal como o racional, o conjunto de todas as verdades matemáticas, não precisa de espaço nem de tempo para existir. Todos os termos da quantidade da perfeição, isto é, o zero, a unidade, os números e o infinito, não são gerados sucessivamente segundo o tempo, mas coexistem, são coeternos.

Ou seja, o nada absoluto ou não ser,  o ser ou primeiro uno, os números da quantidade da perfeição, isto é, as leis da ciência matemática ou arquétipos da filosofia escolástica; e a perfeição infinita ou absoluta ou Deus, existem por si mesmos. São coisas diferentes e são a mesma coisa. Eles têm uma existência hipostática que não é incompatível com a hierarquia.

Todas as leis matemáticas são imperfeições em relação à perfeição absoluta de Deus, mas são perfeições absolutas em relação aos graus inferiores da perfeição. São formas limite de uma dualidade infinita de formas imperfeitas, da mesma forma que o triângulo equilátero, os polígonos de lados iguais e as secções cónicas como modos de relação entre dois pontos, são formas de relativa perfeição em relação à recta. e formas de perfeição absoluta em relação às formas irregulares que representam o limite.

Em suma, todas as quantidades são manifestações, termos e processos de uma só quantidade, a quantidade da perfeição que aparece à nossa contemplação, dividida em duas grandes partes simétricas, recíprocas, conjugadas ou de sexualidade oposta, deste modo:

O modo aproximado de expressar a relação entre estas cinco categorias de quantidade, é comparando seu conjunto a um tetraedro metafísico, cujos vértices são o espaço, o tempo, o pensamento e a força, ocupando o centro, a perfeição.

Essas cinco quantidades correspondem termo a termo a cada um de seus elementos componentes: zero, unidade, números e infinito, conforme expresso na seguinte tabela:

Elementos da Quantidade  ZeroA UnidadeA Pluralidade ou os númerosO Infinito
Quantidade da perfeiçãoO não serO serAs leis matemáticas, arquétipos de todas as coisas possíveis.Deus
Quantidade do espaçoO pontoO átomoAs formas geométricas da natureza, agregados de átomos. O real.O espaço
Quantidade do pensamentoA ideia do não ser, centro da figura do ponto inextenso.O primeiro silogismo: premissa maior, o ser ponto matemático transformando-se numa esfera; premissa menor, não ser, a esfera contraindo-se até se tornar num ponto; a conclusão, o vir a ser, o primeiro átomo, cujo centro de figura é o ponto matemático. As ideias platónicas, combinações possíveis de silogismos, correspondentes às relações matemáticas entre os centros da figura dos poliedros parciais, cuja agregação constitui todas as formas da natureza. As almas, centros das figuras geométricas dos corpos.

O racional.
O grande silogismo, a ideia máxima da divindade, centro da imagem do espaço infinito e do universo.
Quantidade do tempoO instante indivisivel.A vida, o intervalo entre doisPossíveis formas de vida; combinações  biológicas ou musicais da natureza.  A eternidade
Quantidade da forçaO ponto inextenso movendo-se, o átomoA diagonal do paralelograma de duas forças, que é o cerne do silogismo da força.Formas possíveis de equilíbrio ou vida, todas as formas da natureza como máquinas equilibradas em movimento equilibradas, como combinações regulares de diagonais de paralelogramos.  A força, a energia infinita emanando constantemente do nada do ponto central do universo, do primeiro átomo que gera incessantemente a cada instante um número finito de átomos que formam a nebulosa central do universo, da qual se vão segregando as nebulosas parciais, das quais emergem estrelas e planetas, formas mais distantes do centro da imagem e gravidade do universo, quanto se distancia a sua temperatura do fogo central pitagórico (que é bastante semelhante ao inferno cristão), mais complexa é a sua forma poliédrica.


Em geral, pode-se dizer do infinito de qualquer categoria de quantidade, que é o conjunto de todas as combinações possíveis da respectiva unidade consigo mesma: uma esfera, conjunto de todos os raios possíveis emanados de um mesmo centro.

Separando-nos destas quatro grandes divisões de quantidade, a primeira que lhes é comum, devemos ler a primeira linha da tabela pitagórica de todas as coisas, deste modo:

Quantidade de perfeição absoluta, integral de todos os integrais possíveis. O não ser, o ser e as leis matemáticas, Deus. Advertindo que esses quatro termos devem ser lidos, não um após o outro, mas simultaneamente, hipostaticamente.

A quantidade da perfeição, inextensa, atemporal, inteligível e imóvel, tem como forma corpórea, exterior ou envolvente, o ponto matemático inextenso, o zero da quantidade seguinte, ou seja, o ponto é o que costumamos entender como o nada, mas em relação às outras formas seguintes, porque em relação a si mesmo, é algo, material e imaterial em simultâneo. Comparando o espaço-universo, como um conjunto de vários aspectos de um gás muito subtil, este gás condensado até ao seu limite cristaliza, digamos assim. no ponto, no conjunto de todas as leis matemáticas existentes sem causa. Comparando o espaço com um gás-ideia, que é o mesmo que uma ideia-força, começa-se a compreender o mistério.

A primeira letra da segunda linha da tabela pitagórica é o ponto inextenso. Mas, ao combinar-se consigo mesmo, ao mover-se, converter-se numa esfera de raio, que aumenta sem cessar, indefinido, não surge apenas uma nova quantidade, mas quatro novas categorias de quantidade, isto é, quatro linhas diferentes que devem ser lidas hipostaticamente como uma única linha. Estas quatro quantidades chamamos de espaço, tempo, pensamento e força.

Em rigor, a tabela pitagórica termina nesta segunda linha, porque o que acontece é que cada uma das quatro categorias de quantidade que compõem a segunda linha, quando combinadas consigo mesmas e com as outras três, geram um certo número de novas categorias de quantidade, que seria necessário ler simultaneamente, hipostaticamente.

Ao fazer-se a leitura como se entender, é preciso não esquecer que entre o zero e a unidade há sempre uma infinidade de combinações duplas, cujo limite é uma combinação sem par, única e mais perfeita que todas as outras, e que entre a unidade e cada número, assim como entre quaisquer dois números, há uma infinidade de combinações imperfeitas, e que cada número ímpar é um limite dessas combinações imperfeitas. O conjunto, a síntese, a totalidade de todas as combinações possíveis das perfeições parciais dos números, é um limite dessas mesmas perfeições relativas, é um infinito, uma perfeição absoluta, a categoria de regularidade mais elevada que é possível da categoria de perfeição que consideramos.

Para que entre o zero de qualquer tipo de quantidade e o infinito desse mesmo tipo de quantidade, haja uma série ininterrupta de combinações, a contiguidade no final nada mais é do que o aparecimento do movimento, quer consideremos como móvel uma estrela, uma bala ou um ponto matematicamente inextensivo. Nesta série ininterrupta de combinações, nesta contiguidade que, em rigor, é uma vida em que lutam para viver infinitas combinações duplas ou simétricas, só triunfa, só vive a combinação que não tem par, a unidade, que como não tem par, que é indivisível.

Entre a perfeição relativa do zero, e a perfeição também relativa, do infinito, há contiguidade, há contacto ininterrupto, mas nessa linha existem pontos nodais, pontos muito especiais de perfeição relativa, que são os números. Como entre cada um dois espaços da natureza. Isto é, dois números de perfeição, há um infinito especial, uma determinada categoria de infinito, resulta que o salto repentino de um número para outro é a transição repentina (aparentemente) de uma categoria de infinito para outra categoria de infinito.

Mas falar de uma categoria de infinito, equivale a falar de um sistema de numeração, uma categoria de quantidade, de tal forma que, ao passar de um número para outro, saltamos um abismo infinito, e ao passar para o número seguinte saltamos outro abismo infinito. Contudo, saltamos de uma forma diferente, com outro sistema de numeração, como se estivéssemos a escrever uma série de números naturais, colocando cada número num sistema de numeração diferente.

Então, quando consideramos qualquer quantidade, um uno ou um número qualquer da natureza, podemos medi-lo de duas formas distintas, ou com um único sistema de numeração, e neste caso parece-nos ser uma quantidade contínua, ou traduzindo-a simultaneamente em vários sistemas numerais, e neste caso aparece-nos como uma coisa descontínua, como uma quantidade discreta.


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Foto de Ivan Slade em Unsplash

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Imagem de Sergio Cerrato – Italia por Pixabay

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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

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