Esta é uma reflexão sobre o capítulo Plano e Esfera de Sri Ram 1. Este filósofo usa frequentemente figuras geométricas nas suas dissertações metafísicas. Do nosso ponto de vista, fá-lo para ajudar a que a nossa mente apreenda 2 o seu conteúdo de uma forma mais intuitiva e profunda. Partindo de algo material, é mais fácil entender depois uma ideia num plano mais abstracto. Sri Ram usa este mecanismo e, em sequência, com uma certa magia intuída, ele imerge-nos numa camada ainda mais sutil de compreensão onde o que ele nos ensinou no físico-mental é transmutado para um plano puramente espiritual3. Vamos mostrá-lo.
Em primeiro lugar, desenvolve o ser inerente da “perfeição” a partir da ideia de Beleza. O Belo sendo perfeito é eterno. Um exemplo, comenta Sri Ram, pode ser visto numa obra de arte. Nela acontece uma ideia de Beleza que em si mesma, como perfeita, desprende uma qualidade verdadeiramente imperecível. Porque, longe de definhar, continua a irradiar a sua própria essência, apesar do passar do tempo. A Beleza pura e perfeita está inerente na natureza, como por exemplo numa gota de água ou no próprio Universo, nos planetas. A forma de ambas as criações de Beleza é uma Esfera, precisamente porque esta figura geométrica é a que mais nos aproxima dessa ideia de perfeição, de eternidade ou de plenitude em si mesma. Sri Ram desvela essa união íntima entre a Beleza e a Esfera a partir de uma compreensão ainda mais profunda, isto é, como um esquema geométrico-metafísico universal, que entendemos e pretendemos mostrar, está latente na nossa consciência e, portanto, na de toda a humanidade. Sri Ram torna-o presente objectivamente diante dos nossos olhos da seguinte maneira:
A partir deste primeiro esquema, consideramos que as figuras que ilustramos nesta pesquisa são importantes porque aparecem como aqueles símbolos alquímicos que Sri Ram nos convida a percorrer para que aflore esse verdadeiro sentido metafísico que se encontra oculto na nossa consciência e assim dê o salto qualitativo, que mencionamos acima, do físico-mental, isto é, do esquema proposto (ou esses símbolos) para um plano espiritual. Mediante este processo entende-se, por um lado, poder capturar intimamente a diferença que há entre as pessoas com um Manas inferior ou um Manas superior, que se explica agora (Figura 1). E, por outro lado, o movimento essencial na direcção da absoluta realização espiritual do homem (Figura 2).
Uma pessoa está focada no mundo exterior, Manas inferior, quando a luz que emana de Atman recai sobre ela de forma meramente lateral. Ou seja, a sua relação com o ponto do plano em relação ao seu centro e Atman não tem ângulos rectos. Portanto, não é o que deveria ser. Pelo contrário, quando existe um alinhamento recto e perfeito, previamente exposto e como aqui com este esquema se evidencia, entre o Atman, a consciência material e espiritual, essa pessoa está sim focada como deveria ser na sua natureza espiritual. Essa verticalidade da luz de Atman é reflectida directamente na nossa consciência espiritual. Essa pessoa está desperta, activa e acrescentamos que possui uma intuição criativa no seu sentido mais elevado5. O sentido espiritual que brota e se destaca desta imagem-esquema-símbolo em oposição à que se foca na parte terrena, é que floresce a sua semente de beleza e bondade como uma bela flor de lótus e espalha por todo o mundo um perfume único6.
Em outras palavras, é quando aparece uma certa sensibilidade receptiva com umas ondas até esse momento desconhecidas extremamente finas e benignas, que aumentam as nossas percepções e acções7, em forma de altruísmo e fraternidade. Para Sri Ram, não há abertura para algum tipo de espiritualidade se não se faz constantemente palpável através do serviço aos outros, pois é o verdadeiro sintoma de expressão do Amor e da Beleza8 que há nos nossos corações.
Já a imagem a seguir, figura 2, evoca-nos algo indefinido e num momento de silêncio íntimo é reconhecido o nosso movimento em direcção ao espiritual. Daí que pensemos e adiantámos mais acima, que é por meio da geometria metafísica que Sri Ram torna evidente em nós aspectos da realidade que permanecem velados.
Este movimento representa-se pela amplificação dos círculos mantendo o contacto no ponto comum com a tangente. Desta forma, vão-se alargando o raio dos círculos e, ao mesmo tempo, o centro das circunferências vai retrocedendo para cima. À medida que os círculos crescem em magnitude, vão-se abrindo cada vez mais até que este se identifique com o plano e se torne um com ele. Pois bem, no instante em que percebemos visualmente este esquema geométrico e captamos claramente o seu significado é quando o físico-mental se reúne para transcender a nossa compreensão e perceber espiritualmente o estado que é alcançado na verdadeira Realização9. E com isso, voamos intuitivamente com a nossa imaginação, transmutando o que é apreendido:
Convertemo-nos em Estrelas, bebendo directamente da luz da Realidade infinita, tomamos o nosso lugar no céu. E o brilho que com tanta Beleza e Bondade irradiamos, já que tudo afecta tudo, abençoa em alguma medida a humanidade para tornar consciência da necessidade de ir em direção ao dever ser do inexorável retorno à nossa casa celestial.
Notas: