Hieróglifos Egípcios Especiais para Números

Na sua monumental “História Universal dos Algarismos”, Geoerges Ifrah dedica umas páginas aos hieróglifos especiais com que os egípcios designavam os números. Especiais porque não são os que se usavam sempre, como potências de 10, e que já vimos num artigo anterior nesta revista. Estes hieróglifos usados como números de forma não usual foram encontrados, diz, sobretudo ao estudar os templos de Hórus de Edfu e de Denderah, pelo que supomos que o seu uso foi restrito ao período ptolemaico. Um período de multiplicação de hieróglifos e de jogos de significados que, talvez, anteriormente fossem mais reservados e começassem então a sair à luz: “todo o tipo de trocadilhos e jogos gráficos eruditos”, assim chamados por este autor. Neste caso talvez se trabalhe com Números-Ideia e não somente números-quantidade, como nos explica Platão na sua República.
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Destaco e comento alguns dos elementos analisados pelo autor e o que está enquadrado é retirado dessa obra.

NÚMERO UM

A ideia é, talvez, além da homofonia, a ideia de um 1 dinâmico, gerador, como o ponto que traça o diâmetro no círculo nos símbolos da Doutrina Secreta. Que entra na “água”, ou seja, no espaço puro, como um raio ou como uma espada.

O Sol era em Roma, e seguindo tradições mistéricas, o Solus, o Único. No Egipto, Rá é além do Sol a Unidade vibrante do Ser e cujos raios abarcam o infinito.

Efetivamente a Lua é, para nós, única e mutável. A rainha da noite. E é uno o alento de vida da Lua que animou a Terra. A Lua e a Mãe, como o Sol é o Pai.

Curiosa representação da unidade, neste caso associada à passagem do tempo, a um dia.

O DOIS

Claro, mas poderiam ter desenhado 2 sóis ou 2 luas. Evidentemente aqui está representado um princípio de dualidade. De ação do um sobre o outro.

O TRÊS

neste caso sim é um número de vezes, o mesmo.

O QUATRO

As festas de jubileu ou cerimónia de renovação dos faraós, explica o professor Livraga que podiam ser realizadas quer 28, 30 ou 33 anos. Se é 28 é como a renovação da lua. Neste caso o quatro poderia ser o número de semanas ou setes que inclui o dito ciclo.

O CINCO

As estrelas são as cristalizações da deusa Nut tal como a espuma o é do mar. Este céu é a mente divina cujo número é o 5 e as estrelas simbolizam o que Platão chamou arquétipos.

O SEIS

Teríamos que diferenciar quando é a Estrela una a que se manifesta e quando é o número 6 como acontece com a aparição do signo vertical junto ao sol.

O SETE

Esta associação do 7 com os orifícios da cabeça e os mesmos com os planetas astrológicos estendeu-se à magia renascentista como vemos nos livros de Cornélio Agrippa e outros autores.

Curiosa representação do 7 como fracção de um ciclo de 30 dias.

O OITO

Podia ser representado como um Ibis pois simboliza o Deus Thoth que é o Deus dos 8 princípios caóticos que harmoniza com a luz da sua inteligência. Também com uma cabeça e um traço vertical ou a cabeça e o Sol ou a Estrela e 3 traços verticais. Outra das formas é a seguinte:

O curioso neste caso é como invertem a ordem como se fosse um 14 oposto a outro 4 como se os ditos 4 não fossem iguais, como a relação de quadrados (o octógono Estrela) que define o vínculo Terra-Vénus segundo a Doutrina Secreta de H.P. Blavatsky.

O NOVE

Que pode ser representado como uma Estrela e 4 traços ou como uma cabeça e 2 e também:

Recordemos a relação que a mitologia hindu faz do 9 com os Kumaras e com a Estrela Sirius como Senhor do Tempo, e como o 9 está associado ao tempo devido à sua ciclicidade e repetição. Cada 9 retorna à unidade (10 = 1 + 0 na chamada soma teosófica). Justamente nesta relação, a cada 9 vezes colhe o que foi “semeado”, é o número do tempo e da morte que colhe, é o que encerra o ciclo, como a deusa Nephtis, a nona de Heliópolis, que é a “senhora das muralhas.” Como vemos aqui:

O DEZ

Em vez de Aton, o que deve ser um erro, deveríamos ler Atum, ou Ra. Com efeito, o Falcão como Alma do Universo ou Luz Ativa de Deus é quem é e culmina a Década, ao mesmo tempo que inicia um novo ciclo de 9, como vemos nas suas regras de medição e como estudamos noutro artigo deste mesma revista.

Heródoto contou-nos que os sacerdotes do Egito eram matemáticos, embora este nome designasse os “videntes da essência do Real”, não apenas aqueles que sabem operar com o cálculo ou com os conceitos a ele associados.


Imagem de capa

Inscrição hieroglífica egípcia em madeira, do túmulo do general Horemheb. Saqqara, Egito, c. 1300 AC. Museu do Louvre, Paris, França.

Licença: Jan Van der Crabben (CC BY-NC-SA) Creative commons

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