“[O universo] não pode ser lido até que tenhamos aprendido a língua e nos familiarizado com os caracteres em que está escrito. Está escrito em linguagem matemática e as letras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem a qual significa que é humanamente impossível compreender uma única palavra.”
Galileu Galilei
A Natureza brinda-nos com componentes impressionantes: desde animais a plantas, de elementos químicos a compostos, de grandes formações geológicas a pequenos cristais…
As rochas são constituídas por vários tipos de minerais e podem ser classificadas por diversas origens e composições. Por sua vez, os minerais são substâncias naturais sólidas, presentes no estado cristalino ou amorfo, que se representam por fórmulas químicas precisas e equilibradas. Quando estas substâncias, química e fisicamente homogéneas, possuem uma forma externa ou hábito cristalino, poliédrico, com faces que se formam segundo leis geométricas constantes e exatas, são designadas por cristais.
Um cristal é constituído por um conjunto de átomos, iões e moléculas, que se dispõe segundo uma ordem regular e repetitiva, dando origem a uma rede cristalina interna, que não é mais do que uma estrutura tridimensional, de uma sucessão ordenada de células elementares, que se desenvolve segundo leis matemáticas precisas.
E para que se origine um belo cristal, de formas perfeitas e regulares, são necessárias condições específicas, para que estas verdadeiras obras-primas, de formas peculiares e cores luxuriantes, se possam cristalizar e preservar. Tal como em tudo na vida que se aprimora e evolui, para que estas preciosidades tomem forma, é preciso existirem os elementos necessários, tempo e espaço, literalmente, como em tudo na Natureza!
As formas dos cristais devem a sua beleza à estrutura simétrica que as caracteriza e, intrinsecamente, à Matemática. Para que um determinado corpo apresente simetria, será necessário um ponto de referência. Assim como todas as partes do corpo humano são simétricas em relação a um plano imaginário, que corta o corpo em duas partes iguais, longitudinalmente, os cristais caracterizam-se por 3 tipos de elementos de simetria – eixos, centros e planos: A2 = eixo binário; A3 = eixo ternário; A4 = eixo quaternário; A6 = eixo hexâmetro; C = centro; P = plano.
Ressalve-se que a simetria externa dos cristais, que remete a formas geométricas, denomina-se por simetria aparente, uma vez que será a simetria interna que determinará a estrutura do cristal. É possível então, enganar-se por um cristal com aspeto externo simétrico, mas que não corresponde à verdade interna, ou seja, à sua simetria estrutural. Um paralelismo curioso que poderá ser realizado com o Homem, quando a sua essência deve ser remetida ao seu âmago e não à sua aparência ou estética.
A simetria pode originar formas belas, curiosas e exuberantes. Nos minerais, existem 32 classes de simetria que representam as formas geométricas dos cristais com o mesmo grau de simetria. Estas classes dão origem a 7 sistemas cristalográficos, um dos mais importantes elementos de classificação dos minerais, não fosse o número sete um número carregado de misticismo. Estes sistemas, por sua vez, podem ser definidos em 3 unidades de ordem cristalográfica superior, uma espécie de triplo logos cristalográfico: monométrico, dimétrico e trimétrico.
Estes três grandes grupos diferenciam-se devido ao comprimento dos seus parâmetros, ou seja, as três arestas que cortam os três eixos de referência de um cristal. O grupo monométrico tem em comum parâmetros iguais, o dimétrico tem dois iguais e um diferente e o trimétrico tem todos os parâmetros diferentes.
Todo o sistema cristalográfico é caracterizado pelos eixos cristalográficos, em redor dos quais se desenvolve o cristal, coincidindo, normalmente, com os eixos de simetria, correspondendo à direção das três filas de átomos na rede cristalina. Num cristal distinguem-se três ângulos, que se indicam pelas letras do alfabeto grego: α, β, γ. Terá também uma face principal em relação à qual se estabelece a posição das outras faces. Os três eixos de uma face principal, ou parâmetros, de um cristal, indicam-se pelas letras: a, b, c. Assim, as diferentes relações particulares entre estes elementos matemáticos representam constantes cristalográficas típicas de cada sistema, conferindo formas impressionantes aos cristais.
Veja-se no quadro seguinte, uma representação das formas dos sistemas cristalinos, com a apresentação de belíssimos espécimes:
Como um autêntico milagre de simplificação, os sistemas cristalinos acima apresentados concentram os mais variados formatos poligonais, que tendo por base a Matemática das formas, originam os mais belos “talhes” naturais aos cristais.
No entanto, estes sistemas cristalográficos não são determinantes para a identificação dos inúmeros tipos de minerais existentes na Natureza. Veja-se as imagens abaixo. Espécies minerais diferentes podem apresentar hábito cristalino idêntico, como por exemplo, o hábito cúbico exibido pela halite (sal-gema), fluorite, melanoflogite ou pirite. O contrário pode também suceder, ou seja, um mesmo espécime ou cristal apresentar desiguais hábitos cristalinos, como é o caso da pirite, que pode surgir com diferentes aspetos, como alguns poliedros de Platão.
Halite | Fluorite | Melanoflogite | Pirite | Pirite | Pirite |
Os designados Poliedros de Platão, que são sólidos geométricos regulares, (tetraedro, hexaedro ou cubo, octaedro, icosaedro e dodecaedro), são representados na Natureza por diversos cristais. Outra curiosidade Matemática destes sólidos geométricos é que Platão relacionava-os com a construção do Universo, atribuindo a cada poliedro um elemento da natureza: o tetraedro ao fogo, o cubo à terra, o octaedro ao ar, o icosaedro à água e o dodecaedro ao cosmos. Foi a partir da combinação destes elementos que Platão acreditava que foi criado o Universo.