O herói é o número um; o foco onde se juntam todos os raios luminosos ou o Sol que os emite.
Na Aritmética, na Geometria, na Álgebra, à seriedade chama-se exactidão. E da precisão com que os princípios matemáticos realizam as suas respectivas funções nasce toda a gravidade e solenidade desta ciência. Porque são sérios os números, e as figuras geométricas, e as fórmulas algébricas, e os teoremas, e os postulados e as proposições, a ordem matemática é perfeita. Se falhasse a exactidão, toda a estrutura científica viria abaixo. Esta superioridade sobre as demais ciências provém, simplesmente, da seriedade ou exactidão com que se comporta.
A deficiente formalidade dos actos humanos transtorna completamente a ordem universal. Que seria da Geometria se pudéssemos mudar a nosso capricho o diâmetro de uma circunferência! Não pretendo que o homem se comporte como o número, embora nenhum mal lhe viria por isso, mas acho que a leviandade da sua consciência, ignorando qualquer imperativo, é a causa da actual situação do mundo. A falta de seriedade, quer nas coisas transcendentais como nas mais insignificantes, perturba a ordem social e entorpece a consecução do bem comum.
Se a arte tem tanto a ver com a matemática pois o verso a necessita, e a linguagem das notas também, e o tamanho das figuras ou das coisas, e toda a proporção, harmonia, disposição das partes não podem ocultar a sua relação com o número, não estará no ser desta ciência a plenitude do Belo?
Com surgimento do número na mente humana acresce consideravelmente o património da cultura universal. Que outros elementos integrantes desta o superam? O sete tem copiosíssimas aplicações. Talvez algum dia enumeremos muitas delas. O três é de categoria transcendental e o um assemelha-se a Deus na perfeição da sua fundamentalidade. Pitágoras por um lado e os neoplatónicos pelo outro sublinharam com a sua filosofia a importância do número. Os povos que contam um, dois e muitos, vão com a língua de fora atrás do coche da civilização, e bem montados neste os que a cada passo e instante se servem dos números na multiplicidade os seus afazeres. Nada mais certo, nada mais exacto. Se algo sério há na vida é o número. Nem a verdade, nem a precisão lhe são indiferentes; e é honesto e, por conseguinte, moral porque sendo verdadeiro é em si mesmo um imperativo categórico.
Notas
1 Extraídas do livro, até agora inédito, “Ensaios em Miniatura” do escritor estremenho Pedro Romero Mendonza (1896-1969).