A observação da existência e da natureza no seu movimento perfeito e ordenado levou o Ser Humano ao grande caminho na procura do sentido da vida. Durante milénios, filósofos, cientistas, artistas, religiosos e o próprio homem comum na sua vida quotidiana se depararam com o milagre de uma natureza ausente de erro ou dúvidas. Uma natureza que diariamente cumpre o seu dever neste enredo polarizado, cuja capacidade de união entre as suas multifacetadas formas de expressão traz ao nosso interior um sentimento de plena harmonia.
Por esse motivo “A Natureza” é una na sua definição, mas múltipla na sua manifestação, da mesma forma que o Universo encerra uma unidade a partir de um conjunto de incontáveis expressões. Mas tendo a vida na sua expressão natural a perfeição inatingível ao Ser Humano, por que motivo considerar a sua expressão um jogo de sombras e ilusões? Platão referia a existência da caverna como o mundo mais denso de sombras cuja ignorância é evocada no livro a Voz do Silêncio.
Por outro lado, a existência fora desta caverna leva à conexão com a Unidade que se esconde atrás das múltiplas expressões observadas sob o prisma da subjetividade humana. No entanto, as leis que governam esse mundo da “Ciência Superficial” das coisas são as mesmas que regem o mundo da “Ciência Íntima” da vida. E dentro dessa ciência existe um complexo caminho de estados de consciência que permite levantar o véu da Natureza e cuja linguagem se apresenta como inacessível aos nossos olhos e ao nosso entendimento.
Entre alguns dos caminhos traçados pelos inúmeros pensadores e mestres da humanidade, existe uma cuja expressão é comum aos grandes iniciados orientais e ocidentais. Este caminho apresenta-se como sendo a Matemática. A sua visão sagrada chega ao ocidente pelas mãos de Pitágoras o Grande Iniciado, cujas viagens à Índia e ao Egipto permitiram recuperar muito do conhecimento antigo destas civilizações.
A Cruz
Dentro dos símbolos sagrados, se tivéssemos de optar por uma representação da perfeita compreensão humana acerca da Natureza conquistada pelo percurso deste caminho de saída da caverna, ou seja, da pluralidade, rumo à Luz da Unidade, a Cruz poderia seria um deles. Associada ao sofrimento, à dor, à prisão e às correntes espaço-tempo da nossa vida interior e exterior, a Cruz representa na sua essência mais profunda a perfeita união de opostos vivida pelo Ser Humano através do encontro com a Verdade Existencial.
Blavatsky refere na sua obra a Doutrina Secreta que a origem da Cruz surge pelo desdobramento do cubo cuja amplitude do número Quatro eleva o Ser Humano ao seu estado de perfeição.
“Para os Hermetistas, o número Quatro só se converte no símbolo da verdade quando é amplificado num cubo, que, uma vez desenvolvido, produz sete, como simbolizando os elementos macho e fêmea e o elemento da vida”.
Da mesma forma representavam também os egípcios a Cruz Ankh, o homem vivente, com alma.
Na sequência desta ideia, representamos o cubo e o seu desdobramento dando origem a uma Cruz, dividida em duas grandes divisões:
Dentro da Matemática Sagrada, os números pares representam o mundo terrestre, feminino, caótico e diabólico. Os Pitagóricos viam nestes números a diferenciação, a Matéria nascida do Silêncio e por esse motivo, “tudo o que possuía duas faces, ou que era falso, era por eles chamado “binário”. A tensão criada, derivada de um conflito por oposições, gera o movimento da vida na sua incessante procura pela harmonia, ou seja pelos números ímpares. Por esse motivo, toda a existência no mundo da ilusão da matéria não é mais do que uma busca pela perfeição, pela Unidade, pela harmonia dos números ímpares. Estes, de natureza divina e não possuindo contrastes, são considerados os unificadores da Natureza pois “Numero Deus impare gaudet” (O número impar agrada a Deus). No símbolo da Cruz encontramos então a vivência do Ser Humano destes dois movimentos: o masculino, binário, e o feminino, uno, ou seja, a Matéria e o Espírito, sendo o primeiro, visível e o segundo, invisível.
Quando o Três e o Quatro se abraçam, o Quaternário une a sua natureza média à do Triângulo (ou Tríade, isto é, a face de uma de suas superfícies planas se torna a face média de outra) e se transforma em Cubo; só então este (o Cubo desenvolvido) vem a ser o veículo e o número da Vida, o Pai-Mãe Sete.
Sendo o cubo a manifestação da natureza séptula do Ser Humano através da união da sua dimensão quaternária e ternária pelos “quatro elementos materiais e três imateriais”, surge no seu movimento desdobrado a Cruz. Símbolo da superação da condição material no seu estado potencial, a Matéria Caótica ativada pelo Espírito dá origem à condição séptula do Ser Humano. Para os Pitagóricos, o número Quatro era chamado de “o Guardião das Chaves da Natureza”, mas unido ao Três passaria a ser “a própria Natureza”, representando a essência do número Sete, ou seja, a Cruz.
Conclusão
Existe na compreensão da linguagem matemática que anima muitos dos símbolos cosmogónicos da criação a possibilidade de acedermos ao sentido da vida e à compreensão da existência da chave da vida no mundo infernal de todos nós. É curioso pensar que esta chave apenas pode ser vista sob a luz do Espírito sobre a matéria. A força de rajas, de natureza masculina, que ao entrar no quaternário humano, feminino, de matéria não diferenciada leva ao resgate da Chave da Vida e com isto ao nascimento de um novo ser em união com a Natureza. A Cruz, símbolo antiquíssimo pré-existente tanto na Índia (swástica) como no Egipto (Ankh) representa a Unidade do Ser Humano com a Natureza Divina. Por esse motivo, colocavam os Hierofantes Egípcios o TAU perfeito (Cruz) nos seus “barretes” no decorrer de uma celebração representando a união entre o Espírito e a Matéria.
Apesar de a Matemática permitir o acesso à origem das leis cujo movimento projeta na vida um conjunto de sombras onde a maior ou menor distância à luz determina os diferentes estados de consciência humana, não podemos esquecer que na procura desta Chave da Vida, presente na Ciência Superficial das coisas, encontramos o Amor e a Pureza, os grandes dissolventes de Seth, do caos existencial. Desta forma, ninguém ascende à Cruz apenas pela razão pois a Via da Compaixão é o movimento final que permite a entrada do Espírito após a organização do pensamento pela lógica matemática da razão.