O misterioso número 26, e as estrelas da Oitava Esfera

Peso do Coração, Livro dos Mortos (N 3096). Museu do Louvre. Creative Commons
A literatura de todas as nações e todas as idades. Flickr

Hoje, surpreendi vários estudiosos a conversarem sobre o número 26. Eram três, e enriqueciam o que estavam a dizer, cada um com a sua perspectiva. Um era um kabalista, outro um matemático e um terceiro um filósofo. Entremos invisíveis na sala onde eles estão reunidos:

FILÓSOFO

Hoje tive um sonho muito misterioso. Fiz um esforço enorme para que as imagens dele não se dissipassem como neblina. O que ficou é muito pouco e insuficiente, um eco deformado do que ouvi nele, já quase sem sentido, e incompreensível.

No sonho falava-se sobre o número 26, o qual se tornava visível como uma série de estrelas dispostas numa esfera, e depois desdobrou-se de uma forma que eu não me lembro, como se se refletisse, ou seja se as vemos como um círculo, como se se tornasse num círculo duplo e com ele se explicasse uma lei evolutiva.

Enfim, como diz Mercucio em Romeo e Julieta, os sonhos, sonhos são, e não há que lhe dar mais importância. Mas este deixou um aroma de verdades misteriosas, como de um mundo mais belo, justo e bom.

MATEMÁTICO

Que sonho tão evocativo! Talvez as 26 sejam as projecções dos eixos de simetria de um cubo, no interior, e sobre uma superfície esférica. Pois no cubo encontramos 13 eixos de simetria, e estendendo-os no espaço esfera, cortá-la-iam em 26 pontos, que seriam as 26 estrelas do teu sonho.

KABALISTA

O Cubo inscrito na Esfera é uma forma de representar o ato da Criação, como se passa do infinito para o finito, a cristalização dos Arquétipos (aqui seriam as estrelas na Esfera-Céu-Infinito) na primeira Forma estável, que é, segundo os egípcios, o símbolo da Justiça.

Precisamente a latitude onde a Grande Pirâmide está localizada corresponde ao círculo que cruza os quatro pontos de intersecção do cubo inscrito numa esfera vertical norte-sul.

Além disso, o 6 é o número da Justiça, de Maat, no Egipto, a Ordem Celeste manifestada em perfeição. Também porque é o triângulo que se reflecte no espelho da Virgem do Mundo, Ísis, ou os triângulos que sustentam os dois pratos da balança onde se pesa o coração com a pluma desta Deusa da Justiça, as seis faces do Cubo que é o Trono de Deus.

Peso do Coração, Livro dos Mortos (N 3096). Museu do Louvre. Creative Commons
FILÓSOFO

Há tempos, li uma explicação curiosa do Cubo, semelhante ao que explicaste.

Tenho aqui as notas que tomei quando a li, e na verdade associava-o com Ísis, a Mãe do Mundo:

“Será que é porque a Nossa Senhora, a Deusa Ísis, é representada por um trono, cujo assento é cúbico?

Ísis é a Mãe Natureza, e a sua alma; ambas representadas por um cubo, que tem seis faces, o número que governa a justiça e a natureza. Se desdobrarmos este cubo, obtemos uma cruz que significa que o Espírito divino está crucificado nela. Cruz cujas medidas são de três e quatro faces o que indica o número 7, o número-chave que dá forma a esta Natureza, as sete cores de Luz Una.

O cubo também nos sugere a forte coesão que existe na Natureza, na qual nada se perde, nada deixa de ser Natureza e é rejeitado. Na Natureza, a morte não existe, tudo é uma transformação contínua. Os quatro ângulos retos de cada uma das faces significam, sendo perfeitamente iguais e abrangendo 360 graus, a perfeita justiça com a qual é governada esta natureza; quase poderíamos dizer que é a sua essência. Este cubo também é um assento da Divindade, pois a Natureza é considerada não apenas nos seus corpos materiais e com forma (o próprio cubo), mas também a corrente de vida invisível que o usa como palco. Não é apenas o trono, o corpo da Natureza, mas a Deusa que se senta naquele trono, a Alma, a Vida Una que vagueia na Eternidade. Séneca dizia que Deus é o Todo que vemos e que não vemos. Esse Todo em ação é a Natureza, mesmo que os homens, na sua ignorância, só chamem natureza ao que podem perceber os seus limitados sentidos do corpo, ao que vive fugazmente num presente que é uma ilusão destes sentidos.

O Cubo também expressa a Estabilidade, outro dos atributos da Natureza. Pois o cubo é o sólido platónico mais estável (os outros são o tetraedro, simbolizando o fogo, o octaedro, o ar e o icosaedro, a água). Na natureza, a tensão dos opostos, a mudança, a luta para sobreviver é perpétua, e ainda assim nunca se desestabiliza. As estrelas sóis devem morrer, e também o nosso e a sua filha irmã, nossa mãe Terra; mas a Natureza continua a ser ela mesma, e do seu seio nascerão novamente inúmeras estrelas, mesmo que o mundo inteiro tenha sido consumido em chamas.”

MATEMÁTICO

Sim, o Cubo é muito importante, é a “medida do espaço”, assim como o triângulo mede as superfícies. O engenheiro, militar e matemático Juan de Herrera, um dos arquitectos do Mosteiro do Escorial, escreveu o “Discurso sobre a Figura Cúbica”, inspirado nos estudos de geometria sagrada de Raimundo Lullio, um dos maiores filósofos místicos da Idade Média. E na matemática atual, nos seus estudos de hipergeometria, o cubo de 4 dimensões, teseracto ou “hipercubo” tem propriedades muito interessantes. Até converteu-se en figura estelar en Hollywood, com os Vengadores.

O pintor Dalí ficou fascinado por ele e construiu um a partir de letras, que podem ser lidas em várias direções e onde este arquiteto é chamado, JUAN.

FILÓSOFO

Por outro lado, as estrelas na esfera devem ser, como explica Platão, símbolo dos Arquétipos, das Realidades Eternas além do tempo e do espaço. A etimologia dos “arquétipos” mais antigos refere-se às primeiras fendas ou encaixes na concavidade do espaço, como as estrelas no céu. A Oitava Esfera era de estrelas fixas na cosmologia copernicana, mas precisamente, o número Oito já faz referência ao Cubo, com os seus oito vértices inscritos na esfera, ou ao octógono da arquitetura que medeia entre o cubo e a esfera, como vemos nas abóbadas da arte islâmica.

O 8 ou duplo quadrado ou octógono estrela é quem faz a relação entre o Cubo e a Esfera e na filosofia árabe representa as Virtudes, à semelhança do Nobre Caminho Óctuplo do Budismo e da sua Roda da Lei que é representada com 8 raios.

KABALISTA

O número de Deus, de Jeová, como Logos, como Poder Criador, o Cubo em que está fixada a Esfera, é precisamente o 26.

Jod-10, He-5, Vau-6, He-5, que somados dão 26

MATEMÁTICO

O número primo ou “núcleo” do qual este número 26 surge, por duplicação, é o 13.

Se tivermos duas Tetractys pitagóricas de 10 pontos cada uma, 13 é o número resultante. Ou seja, 10 é um número triangular, se fizermos um hexágono estrela com estes dois triângulos entrelaçados, cada um de 10 pontos, a soma total é de 13.

KABALISTA

E 13 é a soma por gematria, das letras que compõem cada uma destas palavras:

Ahavah-Amor

Echad – Unidade

E também a palavra “Voz”, “Vazio”. Ou seja, os poderes criativos da Voz, o Logos; e a concavidade no plenum que ele constrói e de onde tudo se vai desenvolver tudo o que vive, o primeiro átomo ou circunferência que separa o Ser do Não-Ser.

E se o nome do Deus Criador está representado no número 26, este é o número atómico do Ferro, o elemento, de acordo com os egípcios, onde a vontade é forjada, como Machado de duplo gume (as seis direções do Espaço em que esta opera, o interior e o exterior). O mesmo que usou Teseu para entrar no Labirinto e derrotar o Minotauro, ou Ares Dionísio, para construí-lo, cavando no espaço primordial.

É por isso que na Bíblia diz que o Céu é de Ferro e a palavra sideral significa, precisamente, isso, de ferro.

FILÓSOFO

Talvez as duas esferas que representam o meu sonho sejam uma de Ouro, símbolo do amor e da perfeição, e a outra, operando na matéria, a de Ferro, na qual a Vontade opera, símbolo do mundo (ferro). Enquanto que a sua alma é precisamente o Ouro ou o Amor.

Uma é reflectida na outra. Como no mistério da Dupla Maat, de ferro e ouro ao mesmo tempo, como a vemos nas suas estatuetas. Outras vezes de lápis lazúli, da cor do céu.

KABALISTA

Se vemos o cubo dentro da esfera, gerando com os seus eixos de simetria as 26 estrelas, este Cubo seria o Todo.

Podemos dizer que a medida do cubo, a sua arresta é 1, Kether (a Coroa), a diagonal de uma das suas faces é 2, Chokmah (a Sabedoria) e a diagonal do cubo é 3, Binah (a Inteligência), cujas medidas geométricas nos dão uma progressão 1, raiz de 2 e raiz de 3, respetivamente.

De acordo com alguns kabalistas também a aresta é MLK-Rei, a diagonal de uma das faces é ADM, Homem, e a semi-diagonal do vértice a vértice oposto BEN, Filho, irradiando desde o centro de um cubo.

Na realidade, a partir deste centro convergem duas pirâmides, a que se apoia no quadrado terra e a outra que surge do quadrado céu, o Amenti dos egípcios, ambas convergem no centro, ou seja, no coração.

[1] Parte das referências que o Kabalista usa e os designs vêm do artigo “The 13 axes of the cube of space”, no blog de Jane Adam Sart https://janeaquariel.wordpress.com

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