Hoje, surpreendi vários estudiosos a conversarem sobre o número 26. Eram três, e enriqueciam o que estavam a dizer, cada um com a sua perspectiva. Um era um kabalista, outro um matemático e um terceiro um filósofo. Entremos invisíveis na sala onde eles estão reunidos:
Hoje tive um sonho muito misterioso. Fiz um esforço enorme para que as imagens dele não se dissipassem como neblina. O que ficou é muito pouco e insuficiente, um eco deformado do que ouvi nele, já quase sem sentido, e incompreensível.
No sonho falava-se sobre o número 26, o qual se tornava visível como uma série de estrelas dispostas numa esfera, e depois desdobrou-se de uma forma que eu não me lembro, como se se refletisse, ou seja se as vemos como um círculo, como se se tornasse num círculo duplo e com ele se explicasse uma lei evolutiva.
Enfim, como diz Mercucio em Romeo e Julieta, os sonhos, sonhos são, e não há que lhe dar mais importância. Mas este deixou um aroma de verdades misteriosas, como de um mundo mais belo, justo e bom.
Que sonho tão evocativo! Talvez as 26 sejam as projecções dos eixos de simetria de um cubo, no interior, e sobre uma superfície esférica. Pois no cubo encontramos 13 eixos de simetria, e estendendo-os no espaço esfera, cortá-la-iam em 26 pontos, que seriam as 26 estrelas do teu sonho.
O Cubo inscrito na Esfera é uma forma de representar o ato da Criação, como se passa do infinito para o finito, a cristalização dos Arquétipos (aqui seriam as estrelas na Esfera-Céu-Infinito) na primeira Forma estável, que é, segundo os egípcios, o símbolo da Justiça.
Precisamente a latitude onde a Grande Pirâmide está localizada corresponde ao círculo que cruza os quatro pontos de intersecção do cubo inscrito numa esfera vertical norte-sul.
Além disso, o 6 é o número da Justiça, de Maat, no Egipto, a Ordem Celeste manifestada em perfeição. Também porque é o triângulo que se reflecte no espelho da Virgem do Mundo, Ísis, ou os triângulos que sustentam os dois pratos da balança onde se pesa o coração com a pluma desta Deusa da Justiça, as seis faces do Cubo que é o Trono de Deus.
Há tempos, li uma explicação curiosa do Cubo, semelhante ao que explicaste.
Tenho aqui as notas que tomei quando a li, e na verdade associava-o com Ísis, a Mãe do Mundo:
“Será que é porque a Nossa Senhora, a Deusa Ísis, é representada por um trono, cujo assento é cúbico?
Ísis é a Mãe Natureza, e a sua alma; ambas representadas por um cubo, que tem seis faces, o número que governa a justiça e a natureza. Se desdobrarmos este cubo, obtemos uma cruz que significa que o Espírito divino está crucificado nela. Cruz cujas medidas são de três e quatro faces o que indica o número 7, o número-chave que dá forma a esta Natureza, as sete cores de Luz Una.
O cubo também nos sugere a forte coesão que existe na Natureza, na qual nada se perde, nada deixa de ser Natureza e é rejeitado. Na Natureza, a morte não existe, tudo é uma transformação contínua. Os quatro ângulos retos de cada uma das faces significam, sendo perfeitamente iguais e abrangendo 360 graus, a perfeita justiça com a qual é governada esta natureza; quase poderíamos dizer que é a sua essência. Este cubo também é um assento da Divindade, pois a Natureza é considerada não apenas nos seus corpos materiais e com forma (o próprio cubo), mas também a corrente de vida invisível que o usa como palco. Não é apenas o trono, o corpo da Natureza, mas a Deusa que se senta naquele trono, a Alma, a Vida Una que vagueia na Eternidade. Séneca dizia que Deus é o Todo que vemos e que não vemos. Esse Todo em ação é a Natureza, mesmo que os homens, na sua ignorância, só chamem natureza ao que podem perceber os seus limitados sentidos do corpo, ao que vive fugazmente num presente que é uma ilusão destes sentidos.
O Cubo também expressa a Estabilidade, outro dos atributos da Natureza. Pois o cubo é o sólido platónico mais estável (os outros são o tetraedro, simbolizando o fogo, o octaedro, o ar e o icosaedro, a água). Na natureza, a tensão dos opostos, a mudança, a luta para sobreviver é perpétua, e ainda assim nunca se desestabiliza. As estrelas sóis devem morrer, e também o nosso e a sua filha irmã, nossa mãe Terra; mas a Natureza continua a ser ela mesma, e do seu seio nascerão novamente inúmeras estrelas, mesmo que o mundo inteiro tenha sido consumido em chamas.”
Sim, o Cubo é muito importante, é a “medida do espaço”, assim como o triângulo mede as superfícies. O engenheiro, militar e matemático Juan de Herrera, um dos arquitectos do Mosteiro do Escorial, escreveu o “Discurso sobre a Figura Cúbica”, inspirado nos estudos de geometria sagrada de Raimundo Lullio, um dos maiores filósofos místicos da Idade Média. E na matemática atual, nos seus estudos de hipergeometria, o cubo de 4 dimensões, teseracto ou “hipercubo” tem propriedades muito interessantes. Até converteu-se en figura estelar en Hollywood, com os Vengadores.
O pintor Dalí ficou fascinado por ele e construiu um a partir de letras, que podem ser lidas em várias direções e onde este arquiteto é chamado, JUAN.
Por outro lado, as estrelas na esfera devem ser, como explica Platão, símbolo dos Arquétipos, das Realidades Eternas além do tempo e do espaço. A etimologia dos “arquétipos” mais antigos refere-se às primeiras fendas ou encaixes na concavidade do espaço, como as estrelas no céu. A Oitava Esfera era de estrelas fixas na cosmologia copernicana, mas precisamente, o número Oito já faz referência ao Cubo, com os seus oito vértices inscritos na esfera, ou ao octógono da arquitetura que medeia entre o cubo e a esfera, como vemos nas abóbadas da arte islâmica.
O 8 ou duplo quadrado ou octógono estrela é quem faz a relação entre o Cubo e a Esfera e na filosofia árabe representa as Virtudes, à semelhança do Nobre Caminho Óctuplo do Budismo e da sua Roda da Lei que é representada com 8 raios.
O número de Deus, de Jeová, como Logos, como Poder Criador, o Cubo em que está fixada a Esfera, é precisamente o 26.
Jod-10, He-5, Vau-6, He-5, que somados dão 26
O número primo ou “núcleo” do qual este número 26 surge, por duplicação, é o 13.
Se tivermos duas Tetractys pitagóricas de 10 pontos cada uma, 13 é o número resultante. Ou seja, 10 é um número triangular, se fizermos um hexágono estrela com estes dois triângulos entrelaçados, cada um de 10 pontos, a soma total é de 13.
E 13 é a soma por gematria, das letras que compõem cada uma destas palavras:
Ahavah-Amor
Echad – Unidade
E também a palavra “Voz”, “Vazio”. Ou seja, os poderes criativos da Voz, o Logos; e a concavidade no plenum que ele constrói e de onde tudo se vai desenvolver tudo o que vive, o primeiro átomo ou circunferência que separa o Ser do Não-Ser.
E se o nome do Deus Criador está representado no número 26, este é o número atómico do Ferro, o elemento, de acordo com os egípcios, onde a vontade é forjada, como Machado de duplo gume (as seis direções do Espaço em que esta opera, o interior e o exterior). O mesmo que usou Teseu para entrar no Labirinto e derrotar o Minotauro, ou Ares Dionísio, para construí-lo, cavando no espaço primordial.
É por isso que na Bíblia diz que o Céu é de Ferro e a palavra sideral significa, precisamente, isso, de ferro.
Talvez as duas esferas que representam o meu sonho sejam uma de Ouro, símbolo do amor e da perfeição, e a outra, operando na matéria, a de Ferro, na qual a Vontade opera, símbolo do mundo (ferro). Enquanto que a sua alma é precisamente o Ouro ou o Amor.
Uma é reflectida na outra. Como no mistério da Dupla Maat, de ferro e ouro ao mesmo tempo, como a vemos nas suas estatuetas. Outras vezes de lápis lazúli, da cor do céu.
Se vemos o cubo dentro da esfera, gerando com os seus eixos de simetria as 26 estrelas, este Cubo seria o Todo.
Podemos dizer que a medida do cubo, a sua arresta é 1, Kether (a Coroa), a diagonal de uma das suas faces é 2, Chokmah (a Sabedoria) e a diagonal do cubo é 3, Binah (a Inteligência), cujas medidas geométricas nos dão uma progressão 1, raiz de 2 e raiz de 3, respetivamente.
De acordo com alguns kabalistas também a aresta é MLK-Rei, a diagonal de uma das faces é ADM, Homem, e a semi-diagonal do vértice a vértice oposto BEN, Filho, irradiando desde o centro de um cubo.
Na realidade, a partir deste centro convergem duas pirâmides, a que se apoia no quadrado terra e a outra que surge do quadrado céu, o Amenti dos egípcios, ambas convergem no centro, ou seja, no coração.
[1] Parte das referências que o Kabalista usa e os designs vêm do artigo “The 13 axes of the cube of space”, no blog de Jane Adam Sart https://janeaquariel.wordpress.com