O número nove é o quadrado de três, o que significa que podemos relacioná-lo com três triângulos (nove vértices). O triângulo é a origem de todos os corpos geométricos, como diz Platão em O Timeu, pois qualquer um deles pode ser decomposto em triângulos.
Por sua vez, a maioria das religiões afirma que o Deus Absoluto ou Supremo se expressa sob a forma de uma tríade representada por um triângulo, sem perder a sua unidade. Esta característica constitui e sempre constituiu um mistério, que também está presente no cristianismo como o Mistério da Santíssima Trindade: três Pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro.
Se tomarmos como referência as religiões das quais se conservaram muitos dados, como a egípcia, a manifestação das divindades dá-se na forma de enéadas, cada uma delas composta por três tríades. Assim, o número nove simboliza o ciclo total de manifestação dos seres durante uma das batidas ou ciclos de manifestação do universo, chamados Manvantaras ou Anos de Brahma na Índia, e a sua origem é a causa dessa manifestação, representada pelo Deus egípcio Nun na imagem da capa.
Todos os números podem ser somados, de acordo com a soma Teosófica, ou Pitagórica ou Platónica, à sua expressão mínima, a um dos primeiros nove números naturais, adicionando sucessivamente os dígitos que os compõem até ficarem reduzidos a um único. Por exemplo, o número 2.325 seria igual a 2+3+2+5 = 10 = 1+0 =1.
Assim, poderíamos dizer, de certa forma, que existem apenas dez números, os primeiros nove números naturais e o zero.
Desta forma, o número dez poderia ser entendido como a totalidade da manifestação (Nove) mais a sua Origem, mais o Mistério, ou seja, mais o Zero. De tal modo que podemos falar de totalidade (Nove) com ou sem origem, ou seja, pode-se falar indistintamente de nove ou de dez, neste sentido, estando estes números intimamente relacionados.
Na Cabala Hebraica as dez Sephiroth são as dez Emanações da Divindade cujos nomes são: 1º Kether, a Coroa; 2º Chokmah, Sabedoria; 3º Binah, Inteligência; 4º Chesed, Misericórdia; 5º Geburah, Poder; 6º Tiphereth, Beleza; 7º Netzach, Vitória; 8º Hod, Esplendor; 9º Jesod, Fundação, e 10º Malkuth, Reino.
Estas dez Sephiroth formam três tríades. Kether, Chochmah e Binah formam a tríade suprema; Chesed, Geburah e Tiphareth, a segunda, e Netzach, Hod e Yesod, a terceira ou tríade inferior. A décima Sephira, Malkuth, está acima das três tríades. Em outras palavras, voltamos a 9+1. Assim, encontramos, novamente, o ciclo total da manifestação e a sua causa.
Nesta árvore sefirotal, a Coroa é a primeira Sephira da Tríade Suprema, aquela chamada de Primeiro Logos na Teosofia, e Malkuth é a Mãe inferior, a esposa de Adam Kadmon, o Homem Celestial ou Arquetípico, também chamada de “Rainha”.
O número nove era também venerado pelos celtas. O seus bardos cantavam a nona onda do mar, a mais poderosa e a que mais se estendia na costa.
No Bhagavad Gîtâ aparece a Cidade das Nove Portas, simbolizando o corpo humano com as suas nove aberturas de comunicação com o mundo exterior, um ser humano que, para atingir a perfeição total, terá de passar por essas nove portas. Mas, não é só isso que significa, numa chave mais alta, é a Cidade da Sabedoria, o Reino que todo o homem deve conquistar, e se usarmos uma chave ainda mais alta, é o Conhecimento Eterno, o conhecimento que não muda com o tempo, o que forma a essência de todas as coisas, o que nunca nasceu e nunca morrerá.
Da mesma forma, a antiga Tebas, no Egipto, era chamada a Cidade das Cem Portas, reforçando, mais uma vez, o conceito de Dez como totalidade (Nove mais Um). Já que, de acordo com a soma pitagórica:
100 = 1 + 0 + 0 = 1
Neste caso, o resultado da soma (1) representa a Causa sem Causa ou Deus Absoluto, o Mistério.
Em sânscrito, existem alguns termos bastante interessantes relacionados com o número nove e o seu simbolismo:
Nidhi significa Tesouro e alude aos nove tesouros do deus Kuvera (o Satã védico). Significa ainda: oceano, coleção, reunião, etc. Novamente, uma totalidade.
Nava-nidhi traduz-se literalmente como “as Nove Jóias”, simbolizando a consumação do desenvolvimento espiritual.
O número nove é o sinal da circunferência, uma vez que esta cobre 360 graus e, se efectuarmos a soma pitagórica, explicada anteriormente, o resultado é nove:
360 = 3 + 6 + 0 = 9
Segundo o Professor Livraga, a circunferência é a sombra ou o reflexo do Zero, este último símbolo do Deus Absoluto, a Causa sem Causa de toda a série aritmética e geométrica. Podemos observar novamente o número nove como o fecho do ciclo e podemos também observar que há algo mais, aquilo que está para além daquilo que corresponde à origem do ciclo.
O Septerium era um grande festival religioso que se realizava de nove em nove anos em Delfos, em honra de Hélios, o Sol ou Apolo, para comemorar o seu triunfo sobre as trevas.
No cristianismo, existe a chamada Novena. A Novena é um culto de nove dias em honra de diferentes figuras sagradas e a missa de nove dias, cuja prática remonta à antiga tradição cristã e que se acredita ser uma forma de recordar os falecidos e de os ajudar no seu caminho para o céu.
Os hierofantes frígios de Cibele eram chamados dactyls, considerados os maiores mágicos e exorcistas, eram cinco ou dez, devido aos cinco dedos de uma mão que abençoavam e aos dez das duas mãos que evocavam os deuses.
Há dez Mandamentos no budismo, no judaísmo e no cristianismo. Preceitos ou regras que devem ser observados para atingir o Mundo do Espírito e dez virtudes pitagóricas, que são as virtudes da Iniciação, idênticas às prescritas por Manu na Índia e às Paramitas de Perfeição dos budistas.
Kounboum é chamada a árvore sagrada do Tibete, ou “Árvore das Dez Mil Imagens”. Esta árvore encontra-se nos terrenos do mosteiro Lamasery com o mesmo nome. Diz-se que cada uma das suas folhas, quando aberta, contém uma letra ou uma frase religiosa, escrita em caracteres sagrados, de tal perfeição que ninguém consegue ultrapassar (10.000 = 1 + 0 + 0 + 0 + 0 = 1).
No Egipto, segundo Clemente de Alexandria, os profetas deviam conhecer os dez livros sacerdotais que tratavam dos deuses e dos deveres dos sacerdotes.
H.P. Blavatsky chama ao Dez o número da perfeição.
A letra Y é a décima letra do alfabeto hebraico: o Yod. É a letra pitagórica e simboliza, nas suas duas ramificações, os caminhos da virtude e do vício, respetivamente, a direita representando a virtude e a esquerda o vício. Na Cabala hebraica, como número, corresponde a dez, o número perfeito.
Todos estes exemplos reforçam a relação entre estes números e a sua importância. Podemos ver que o seu significado é complementar, mas sempre relacionado com a ideia de perfeição.
Bibliografia
Introducción a la Sabiduría de Oriente, Jorge Ángel Livraga Rizzi.
Glosario Teosófico, H.P. Blavatsky.
El Timeo, Platón.
Tebas, Jorge Ángel Livraga Rizzi.
Curso de Filosofía. Primer Nivel, Jorge Ángel Livraga Rizzi.
Imagem de capa
Nun ergue a Barca Solar com o Sol recém-nascido das Águas da Criação. Domínio público