O Triângulo e a sua Expressão

Quando os gregos observaram as pirâmides do Egipto, deram-lhes o nome de Fogo “Pir”, porque o fogo adopta, de forma natural, essa forma ascendente e piramidal. O símbolo do fogo, que sempre é vertical, representa o espírito que pode incendiar tudo ao seu redor, ou seja, levar a sua ideia a outros lugares. É símbolo, pois, da Ideia Espiritual que ilumina e se transmite.
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Diagrama de Euler dos diversos tipos de triángulos. Creative Commons

Podemos encontrar, entre outras, duas definições actuais de triângulo:

O triângulo é um polígono de três ângulos e três lados.

Dicionário da Academia Real Espanhola

Na geometria plana, chama-se triângulo, trígono ou trigonóide ao polígono de três lados. Os pontos comuns a cada par de lados denominam-se vértices do triângulo.

Um triângulo tem três ângulos interiores, três partes congruentes de ângulos exteriores, três lados e três vértices entre outros elementos.

Wikipédia

Através destas definições e das descrições dos diferentes tipos de triângulos e as suas leis ou teoremas, podemos intuir que se trata de uma figura geométrica especial, no sentido da sua importância.

Por exemplo, o triângulo é o polígono mais simples e o único que não tem diagonal. Três pontos não alinhados definem sempre o triângulo, tanto no plano com no espaço.

Se se adiciona um quarto ponto no mesmo plano, não alinhado, obtém-se um quadrilátero que pode ser dividido em triângulos. E, se o quarto ponto adicionado não está no mesmo plano nem está alinhado, obtém-se um tetraedro que é o poliedro mais simples, estando conformado por 4 faces triangulares.

Todo o polígono pode ser dividido num número finito de triângulos, a isto se chega por triangulação. O estudo dos triângulos é fundamental para o estudo de outros polígonos.

Através destas ideias simples, podemos ver o triângulo como origem das restantes figuras geométricas. Se tivermos em conta que os corpos em volume expressam-se como combinação destas figuras geométricas, a origem dos corpos densos estaria relacionado com o triângulo.

O Timeu fala assim do nascimento do universo:

Timeu: “De seguida apresento em breves palavras as conclusões do meu discurso: Há ser (pai), espaço (mãe) e devir (filho): Os três existem de maneira individual antes do universo… Quando (o Demiurgo) se dispôs a organizar o universo, dotou primeiramente de forma e número o Fogo, Água, Terra e Ar… Em primeiro lugar, é de tudo evidente que o Fogo, a Terra, a Água e o Ar são corpos. Toda a figura do corpo tem também profundidade”.

Neste parágrafo podemos relacionar o triângulo com a expressão, no mundo das formas, da Tríade Pai-Mãe-Filho e, portanto, com a origem do universo. Desta maneira proveem todas as formas, ou seja, todas as formas são combinações dela.

Quando nasce o universo visível aparece a profundidade, um quarto elemento (o volume). Esta profundidade vai se obter por combinação ou reflexo de triângulos, ou seja, os corpos geométricos que vão simbolizar os cinco elementos, obtêm-se quando se combinam ou refletem diferentes triângulos no espaço.

Sólidos platónicos. Creative commons

Pitágoras fala-nos da Tetraktys. O Sagrado Quatro ou Tetraktys é o quadrado dentro do círculo, é a Tríada do Absoluto, representada por um triângulo, e a sua Essência, que dá lugar ao Quatro material e ao consequente processo da manifestação, que tem como resultado o Kosmos ou mundo manifestado.

Na representação geométrica dessa Tetraktys, o triângulo joga um papel fundamental, como origem das restantes figuras geométricas e como expressão da causa ou origem da manifestação:

Representações gráficas da Tetraktys. Creative commons

Na Doutrina Secreta de H.P. Blavatsky descreve-se a Causa do Universo composta da seguinte forma:

  1. O ABSOLUTO: o Parabrahman dos vedantinos ou a Realidade Una, Sat, que é, como disse Hegel, ao mesmo tempo, Absoluto Ser e Não-Ser.
  2. O Primeiro Logos: O Logos impessoal, e na Filosofia, não manifestado, o percursor do Manifestado. Esta é a “Primeira Causa”, o “Inconsciente” dos panteístas europeus.
  3. O Segundo Logos: Espírito-Matérias, Vida; o “Espírito do Univeso”, Purusha e Prakriti.
  4. O Terceiro Logo: a Ideação Cósmica, Mahat ou Inteligência, a Alma Universal do Mundo, o Númeno Cósmico da Matéria, a base das operações inteligentes da Natureza, chamado também Mahâ-Buddhi.

Volume I de Doutrina Secreta (Cosmogénese). H.P. Blavatsky

Este parágrafo fala-nos do conceito de número como ideia, mas como ideia viva, como ser vivo. São os números os antecedentes ou causas das formas geométricas no processo da criação. Vemos que o Terceiro Logos ou a Ideação Cósmica corresponde ao número Três, causa ou antecedente do triângulo, como se disse antes, a sua expressão no mundo das formas, anterior ao mundo material denso.

O triângulo representa a expressão, no mundo das formas, da Divindade Trina (Primeiro Logos, Segundo Logos e Terceiro Logos), descrita no parágrafo anterior por H.P. Blavatsky e mostrada em todas as religiões como o Pai, a Mãe e o Filho, com diferentes nomes. Sendo a essência ou resumo desta Divindade. O ABSOLUTO, correspondente ao zero, número sagrado, e por isso, nem sempre usado pelas civilizações antigas.

Este simbolismo expressa-se nas construções religiosas. Por exemplo, nas pirâmides, tanto egípcias como americanas, cujas faces são triângulos, cujo vértice superior está em contacto com o céu.

Pirâmide de Kheops. Creative Commons

Quando os gregos observaram as pirâmides do Egipto, deram-lhes o nome de Fogo “Pir”, porque o fogo adopta, de forma natural, essa forma ascendente e piramidal. O símbolo do fogo, que sempre é vertical, representa o espírito que pode incendiar tudo ao seu redor, ou seja, levar a sua ideia a outros lugares. É símbolo, pois, da Ideia Espiritual que ilumina e se transmite.

Outro exemplo muito conhecido de utilização do triângulo como símbolo do Superior, do Divino, é o Partenon de Atenas.

Partenon, Atenas. Creative Commons

Este templo que foi dedicado a Atena, Deusa da sabedoria e da guerra, podíamos dizer Deusa da guerra inteligente, da guerra justa, tem a sua parte superior em forma de triângulo. O chamado frontão triangular plasma o contacto com o céu, e ao mesmo tempo, a origem celeste, o ponto de comunicação entre a origem e o destino de todo o criado, que se apoia na matéria para expressar-se (planta retangular, que contém o quadrado).

Frontão neoclássico, que reproduz a aparência dos templos gregos de estilo jónico, no prédio da Academia Nacional de Arte de Atenas. Creative Commons

Os zigurates babilónicos são outro exemplo da utilização do triângulo como símbolo de ascensão até Ao Superior e representação d’O Superior em si mesmo.

Trata-se de construções espiraladas compostas de sete pisos, que vão sendo cada vez mais pequenos à medida que se vão elevando como uma espiral. De maneira que, na sua totalidade, formam uma estrutura, de onde podemos observar quatro faces triangulares, tipo pirâmides.

Reconstrução informática do Zigurate de Ur. Dominio Público
Zigurate de Ur. Dominio Público

A simbologia cristã também mostra o triângulo neste mesmo sentido, como se pode observar na seguinte imagem:

Santíssima Trindade, detentora da Irmandade da Trindade (Sevilha). Creative Commons

Nesta imagem podemos ver o triângulo nos extremos das potências de Jesus Cristo, pois, se os unirmos, formam-no; nos extremos dos raios que rodeiam o Espírito Santo; e representado sobre a cabeça de Deus Pai. Também podemos observar outro triângulo maior formado pelo Espírito Santo, Deus Pai e Jesus Cristo. Relacionamos, pois, o triângulo com a expressão da Santíssima Trindade e com a de um dos seus componentes.

Podíamos encontrar muitos mais exemplos, que expressam o simbolismo do triângulo, sempre relacionado com a expressão, no mundo das formas, do Número Três ou a Ideia Três ou o Ser Três, o Divino, o Espiritual, a origem de tudo o que está manifestado.


Bibliografia:

Dicionário da Real Academia Espanhola

Wikipédia

Timeu, Platão

Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky

Cátedra do Curso de Filosofia Geral, Nova Acrópole

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