O processo inverso também é válido e está relacionado com a própria estrutura da mente filosófica e também com a prática. Tal como disse este filósofo búlgaro:
Desde a mais remota antiguidade, o homem procura uma linguagem ao mesmo tempo universal e sintética, e as suas pesquisas levaram-no a descobrir imagens, símbolos que expressam, reduzidos ao essencial, as realidades ricas e complexas.
Também podeis fazer esta experiência. Se meditardes durante muito, muito tempo sobre um tema, notareis que no vosso subconsciente ou supraconsciente se está a cristalizar uma forma simbólica, a de um objeto ou figura geométrica, que corresponde absolutamente com a ideia, o pensamento, a verdade que vos preocupa.
Depois de explicar que a cruz representa o movimento e a acção do fogo (linha vertical) e da água (linha horizontal), e a relação com as quatro direcções do espaço e os quatro pontos cardeais, explica que:
“Todo o Universo é uma cruz, e o homem, quando estende os braços, forma também uma cruz“.
Ele diz, tal como H.P. Blavatsky na Doutrina Secreta, que a cruz de duas dimensões é o desenvolvimento de um cubo numa superfície plana; o cubo é constituído por seis faces quadradas. A relação entre a cruz e o quadrado fundamenta-se no facto de terem em comum o número quatro.
E continua, fazendo a ligação do quatro com a purificação. H.P. Blavatsky liga o quatro ao Karma, e o Quadrado com a Justiça Perfeita. E podemos associar à peneira de Saturno que só deixa passar o que é realmente válido, separando o trigo do joio. Este autor diz o mesmo:
O Mestre Peter Deunov dizia: “O número quatro é o processo divino mediante o qual os nossos pensamentos e os nossos sentimentos são peneirados neste mundo“. O número quatro é, portanto, o número da purificação, é a grande peneira que tudo purifica. E como é o número da purificação, é também o número do sofrimento, porque o sofrimento é muitas vezes o único meio de purificação. Quando sofreis é como se fosseis obrigados a passar pelas malhas de uma peneira. O número quatro é o da pureza, do sofrimento e da limitação: o da limitação no plano físico (vejam como a figura do quadrado dá uma impressão de reclusão, de clausura, inclusive de prisão), o do sofrimento no plano astral e o da pureza no plano mental. Nesta prisão, que é o nosso corpo físico, estamos presos e sofremos, mas sofremos para ser purificados; e uma vez puros, seremos livres, sairemos da prisão.
Depois de ter explicado o quatro numa dimensão (a cruz) e em duas (o cubo desenvolvido) sob a forma de uma cruz, explica também a cruz cúbica, em três dimensões (comprimento, largura e altura), que é composta por cinco cubos:
A face da frente e a de trás somam dez quadrados (cinco cada uma) e o perímetro 22. Estas 22 faces, diz, correspondem aos 22 elementos através dos quais a Cabala nos ensina que Deus criou o mundo.
São as 22 letras do alfabeto hebraico, as 22 sendas que ligam as 10 sephirots da Árvore da Existência.
22 = 3 + 7 + 12
É a Acção de Deus ou a Unidade Perpétua no mundo, constituído assim:
3 – Triplo Logos, simbolizados pelo Sol.
7 – Sete Raios ou Emanações, simbolizados pelos 7 planetas astrológicos.
12 – Os 12 poderes construtores, simbolizados pelos signos do zodíaco.
O Sepher Yetzirah e a Cabala associam-no às 22 letras: 3 mães, 7 duplas e 12 simples, como vemos nesta roda da criação deste livro místico:
E, a título de exemplo, neste quadro das mesmas letras, (embora as relações possam não ser exactas)
E aqui vemos as 22 ligações ou caminhos entre as 10 sephiroth.
E o autor continua a explicar os números que se definem na Cruz Cúbica:
O um: a cruz em si, o todo.
O dois: os dois braços, horizontal e vertical, o comprimento e a largura, as duas dimensões.
O três: o comprimento, a largura e a profundidade, as três dimensões.
O quatro: as quatro direcções dos braços.
O cinco: os cinco quadrados de dois lados, ou seja, o pentagrama na luz e o pentagrama na sombra.
O seis: os quadrados que formam a parte superior e inferior da cruz erguida.
O sete: os quadrados que formam cada um dos dois braços desenvolvidos numa superfície plana.
O oito: todos os quadrados que formam o braço horizontal desenvolvido numa superfície plana.
O nove: os cinco cubos e as quatro direcções.
O dez: a soma dos quadrados do anverso e do verso.
O onze: os seis quadrados horizontais de cima e debaixo acrescentados aos cinco quadrados de uma das duas faces.
O doze: os quadrados do contorno da cruz jazente.
Se a geometria é síntese de reflexão filosófica, não é pouco o que há aqui para meditar. Porque a questão não é apenas o quê, mas também o porquê, porque é que estas divisões são escolhidas para gerar estes números. Sobre as 22 letras hebraicas e as suas relações cabalísticas com os poderes construtores e com os números (pois são letras-símbolos-números) elaboraremos outros artigos nesta revista.
José Carlos Fernández
Almada 8 de Janeiro de 2024
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