No problema 212 do tratado matemático hindu Lilavati, escrito por Bhaskara por volta de 1150 d.C., afirma-se:
“Também se pode obter o volume da esfera se calcularmos metade do diâmetro ao cubo e adicionarmos 1/21 dessa mesma quantidade“.
Esta afirmação baseia-se no facto de uma boa aproximação de PI (trita em sânscrito), ser, como ele próprio ensina acima (e Arquimedes também 1300 antes dele), a fração 22/7, com um valor de 3,1428.
Vejamos:
Este facto é simbolicamente de grande interesse, o próprio desenvolvimento e aparecimento do número 42, um número-chave, por exemplo, na religião egípcia.
42 são os juízes na Confissão Negativa do Morto, na obra chamada Livro dos Mortos, embora o seu título original seja Partida da Alma para a Luz do Dia. Representam, como deuses, a encarnação das leis da Justiça (MAAT , o Ideal Eterno, Ordem-Verdade-Justiça).
Uma interpretação desse número é que, das 49 Leis do Cosmos (os 49 Fogos de Ptah ou Agni na Índia), as 7 mais elevadas constituem a própria unidade ideal, ou seja, Osíris. Assim teríamos Osíris e os 42 Juízes.
Estes 42 juízes são o equivalente aos músicos de alguns portais de catedrais românicas, cujo modelo mais perfeito é o de Santiago de Compostela. Dão a música ideal que molda o ideal da realidade e da própria natureza. Estão acima das arquivoltas que representam os diferentes céus, de onde emana a música das esferas. O que não está de acordo com esta música gera um ruído, uma infração contra a lei da harmonia que tem evidentemente consequências a posteriori para aqueles que a geraram por ignorância ou egoísmo.
Os 42 Juízes estão em concordância, um a um, com as 42 Regras de Maat, no tribunal da Dupla Verdade (que é talvez a “verdade da intenção” e a “verdade da ação”) É fácil fazer uma leitura filosófica e simbólica do processo geométrico:
Recomenda-se a leitura de um artigo desta revista, “O problema e o mistério da duplicação do cubo“
As verdades geométricas podem ser verdades da vida, e do seu desenvolvimento, como as verdades aritméticas são verdades das ideias puras ou do espírito, como nos ensinou H.P. Blavatsky no seu Ísis sem Véu.
Imagem de capa
Museu Britânico: Livro dos Mortos de Hunefer (Hw-nfr) quadro 3; vinhetas totalmente coloridas; borda colorida. A cena (vinhetas) mostra episódios do julgamento de Hunefer. © The Trustees of the British Museum