Os números: Comparação entre a Tradição e a Ciência – 1ª parte

1 Teorema de Pitágoras Pixabay

Vamos falar de Pitágoras e da sua Tetraktys, como uma das referências mais antigas da tradição ocidental relativa o conceito de número.

Segundo H. P. Blavatsky, o sagrado “Quatro”, pelo qual juravam os pitagóricos, sendo o seu o juramento mais inviolável, tem um significado muito místico e variado, semelhante ao do Tetragrammaton. O primeiro de todos é a sua Unidade, ou o “Um” sob quatro diferentes aspectos; depois, é o número fundamental Quatro, a Tétrade contendo a Década, ou Dez, o número da perfeição. Finalmente, significa a Tríade primitiva (ou Triângulo) fundida na Mónada divina.

Tetraktys. Glossário Teosófico, H. P. Blavatsky

No processo de Manifestação, quando o Zero (o Círculo sem limites, o Absoluto, o Um sem Segundo, o Espírito Divino, o Ápice Oculto), é refletido no Três (A Mente Cósmica Mahat, a Terceira Pessoa da Tríade Imanifestada do Absoluto, o Terceiro Logos Imanifestado, a Alma do Mundo), o Quatro aparece – A Matéria – e simultaneamente aparecem os números básicos restantes, que estão contidos na soma dos anteriores (1 + 2 + 3 + 4).

O Quatro Sagrado ou Tetraktys é o quadrado dentro do círculo, é a Tríade do Absoluto e a sua Essência, que dá origem ao Quatro material e ao consequente processo de manifestação, que tem como resultado o Kosmos ou Mundo manifestado.

Na Doutrina Secreta de H. P. Blavatsky, o Quatro, que para nós é o símbolo da Matéria no plano mais elevado, é um símbolo do Espírito Puro e Perfeito, portanto, nos quadros de El Greco e, em geral, na pintura Bizantina, a luz de Cristo é representada por um quadrado, não por um círculo, ou seja, a aura que aparece em Cristo, que é realmente a essência de Cristo, é um losango, que é o quadrado místico. E a Tetraktys não representa a matéria, representa o Espírito Puro e Perfeito.

Jesus Cristo, El Greco. Domínio Público

A Teraktys pode-se representar graficamente nas seguintes formas, onde estão contidos os números e as formas geométricas que encerra.

Tetraktys Pitagórico, Domínio Público

Na chave humana, o processo evolutivo contido na Tetrakys, reflecte o caminho da Iniciação ou da superação de todas as provas humanas:

Tradicionalmente, podemos representar o ser humano constituído por sete veículos ou corpo: quatro manifestados no plano material (etero-físico, vital, psicológico e mental concreto), que representamos por um quadrado, chamado quaternário ou personalidade, e três não manifestados (Vontade, Intuição e Mente Pura), que representamos por um triângulo, denominado Tríade ou Eu Superior ou simplesmente Espírito.

A mente concreta, situada no quaternário, quando não é dominada é algo fluída, mutável, instável, e ao superar o processo de Iniciação, converte-se em algo unido à Mente Pura, que corresponde à estabilidade como poder. Então, a personalidade, que geralmente é pesada com a inércia para mover-se onde indica o Espírito, transforma-se  numa “língua de fogo”, num  triângulo. Este corresponde também ao símbolo do cavaleiro e da espada, porque a personalidade (quaternário) do Iniciado converte-se em algo completamente fluído, que já não tem inércia, não opõe resistência, ou seja, vai para onde o Eu Superior diz (a Tríade, representada pelo triângulo). A personalidade que era estável como inércia, não era estável como poder.

Vemos também aqui como a evolução do ser humano corresponde ao mesmo processo matemático da evolução do universo, seguindo a máxima hermética “assim é acima como é abaixo”.

“Como Galahad retirou a espada da pedra em Camelot.” Ilustração de Arthur Rackham para “O Romance do Rei Arthur” (1917), de Alfred W. Pollard. Domínio público

Na Doutrina Secreta de H. P. Blavatsky, é descrita a Causa do Universo da seguinte forma:

1. O ABSOLUTO: o Parabrahman dos vedantinos ou a Realidade Una, Sat, que é, como disse Hegel, ao mesmo tempo Absoluto Ser e Não-ser.

2. O Primeiro Logos: o Logos impessoal e, em filosofia, não manifestado; o precursor do Manifestado. Esta é a “Primeira Causa”, o “Inconsciente” dos panteístas europeus.

3. O Segundo Logos: Espírito-Matéria, Vida; o “Espírito do Universo”, Purusha e Prakriti.4. O Terceiro Logos: a Ideação Cósmica; Mahat ou Inteligência, a Alma Universal do Mundo; o Númeno Cósmico da Matéria, a base das operações inteligentes da Natureza, também chamado Maha-Buddhi.

Volume I da Doutrina Secreta (Cosmogénese). H. P. Blavatsky

Uma possível interpretação será: o Absoluto é o Zero, o Ápice Oculto ou o Quatro Sagrado, o Uno sem Segundo, a Tetraktys. O Primeiro Logos ou Logos Impessoal (não manifestado) é o Uno. O Segundo Logos ou “Espírito do Universo” é o Dois. E, o Terceiro Logos, a Mente Cósmica ou Alma Universal do Mundo, a Causa Cósmica da Matéria, é o Três. Posteriormente, começa a manifestação propriamente dita com o Quatro, reflexo material desse Quaternário Espiritual, que contém em si mesmo todos os números básicos que intervêm no ciclo completo da manifestação (1 a 9).

Platão também fala dos números como a origem do universo:

O primeiro exemplo de linguagem simbólica, difícil de compreender em “O Timeu”, surge nas duas primeiras frases do livro:

SÓCRATES: Um, dois, três; mas, onde está, caro Timeu, o quarto daqueles que ontem foram meus convidados e agora são anfitriões?

TIMEU: Veio sobre ele uma enfermidade, Sócrates, pois não perderia a oportunidade de comparecer a esta reunião de bom grado.

Aparentemente está a falar de quatro pessoas. No entanto, estes parágrafos resumem toda a doutrina pitagórica da Tetraktys. Já que, quando aparece o número quatro, aparece o mundo material com os seus quatro Elementos e o quatro evoca a Década, pois implica o três, o dois e o um, aqueles que no total somam dez. Este processo descreve a formação de todo o universo em forma numérica. Posteriormente, no Timeu, aparecerá a proporção áurea, como proporção perfeita que dá origem ao número áureo φ (pertencente aos chamados números transcendentes, aqueles de que falaremos mais tarde). Essa proporção define-se como a relação que guardam entre si dois segmentos de recta a e b (a de maior comprimento que b) e é a seguinte: o comprimento total, soma dos dois segmentos a e b, é ao segmento maior a, o que este segmento a é ao segmento menor b. Escrito de forma algébrica:

Designando por φ à fração a/b e resolvendo a equação de segundo grau resultante, obtemos o seguinte valor numérico: 1,61803398874989… (valor de dígitos infinitos não periódicos). Este número foi designado por φ, em homenagem ao escultor grego Fídias, e indica as proporções exactas que deve ter qualquer estrutura para estar em harmonia com as leis do universo.

Platão na Escola de Atenas; aponta para o céu em referência ao mundo das ideias. Domínio Público.

O conceito platónico e pitagórico de número, conforme demonstrado, não é aquele que temos e usamos na nossa vida diária. Os números são entidades arquetípicas, que se refletem no mundo manifestado de uma determinada maneira, que corresponde ao seu “corpo” e que nós representamos por determinados caracteres. Por isso, em determinadas religiões são representados por Deuses.No Timeu fala-se também do nascimento do universo:

TIMEU: “A seguir, apresento-vos em poucas palavras as conclusões do meu discurso: existe o ser (pai), espaço (mãe) e devir (filho): os três existiam individualmente antes do universo … Quando (o Demiurgo) empreendeu a organizar o universo, dotou inicialmente de forma e número o Fogo, Água, Terra e Ar … Em primeiro lugar, é bastante evidente que o Fogo, a Terra, a Água e o Ar são corpos. Cada figura do corpo também tem profundidade”.

A primeira figura geométrica fechada é o triângulo, expressão da tríade citada anteriormente. Quando nasce o universo visível, surge a profundidade, um quarto elemento. Essa profundidade será obtida por combinação ou reflexo de triângulos, ou seja, os corpos geométricos, que vão simbolizar os quatro elementos, são obtidos quando se combinam ou reflectem diferentes triângulos no espaço. Novamente, podemos ver que é a partir do quatro que ocorre a manifestação ou aparecimento do mundo visível.

Sólidos platónicos.

Segundo o famoso físico do século XX Werner Heisenberg, o ponto de vista de Platão seria aquele que mais se assemelha ao que diz a Física moderna:“… Ele (Platão) estava correto em acreditar que, em última análise, no coração da natureza, entre as menores unidades da matéria, podemos encontrar a simetria matemática.” (Werner Heisenberg, Lei Natural e a Estrutura da Matéria).

Heisenberg em 1933. Creative Commons

Segundo H. P. Blavatsky, o Sepher Yetzirah ou “Livro da Criação” é a mais oculta de todas as obras cabalísticas que estão actualmente em posse dos místicos modernos e trata da evolução do universo com base num sistema de correspondências e números. Também afirma, que a chave numérica também se aplica à Bíblia e a todas as Sagradas Escrituras, em geral.

Uma declaração muito enigmática desta grande filósofa, é a seguinte:

O mistério de todo o Universo baseia-se, excepto em raríssimas ocasiões, nas Hierarquias e nos verdadeiros números destes Seres invisíveis para nós. (Doutrina Secreta, I, 116, 188, etc.)

H. P. Blavatsky 1875. Domínio Público

Bibliografía:

Timeo, Platón. Alianza Editorial.

Cátedra de Simbología Teológica, Jorge Ángel Livraga Rizzi.

Cátedra de Historia de la Filosofía Antigua, Jorge Ángel Livraga Rizzi.

Cátedra de Introducción a la Sabiduría de Oriente, Jorge Ángel Livraga Rizzi.

Doctrina Secreta, H. P. Blavatsky.

Glosario Teosófico, H. P. Blavatsky.

El número PI: 3,14159 – Poder creador, conservador y destructor de la naturaleza. José Carlos Fernández.

Boletín Pitágoras nº 5, Maio 2016.Revista Matemática para Filósofos nº 5

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