A nossa vida quotidiana está regida por números. Por exemplo, medimos o tempo com o relógio e adaptamo-nos a essas medidas.
Comecemos pelas horas. Segundo o sistema sexagesimal, que é o que normalmente usamos para medir o tempo, as horas compõem-se de 60 minutos e os minutos de 60 segundos. Pitágoras dizia que qualquer número pode ser reduzido à sua última expressão, à sua essência, efectuando a soma dos factores que o compõem e por esse motivo é chamada soma pitagórica. Desta forma:
60 = 6 + 0 = 6
Ou seja, a nossa vida, em certo sentido, rege-se pelo número 6.
Considerando a tradição filosófica,que significado podemos extrair para o número 6?
Segundo Platão, no Timeu, todas as formas geométricas derivam do triângulo, são combinações de triângulos. O número 6, como ente ou ser, expressa-se no mundo das formas como um hexágono. E o hexágono pode ser considerado como uma combinação de dois triângulos, como podemos ver na seguinte figura:
Nesta figura, podemos ver representada a estrela de seis pontas ou Estrela de Salomão, que filosoficamente representa o Macrocosmos.
Desta forma, podemos ver como tudo está no todo, e a aparente casualidade que nos rodeia reflecte uma ordem matemática universal.
O dia tem 24 horas. Se calcularmos a soma pitagórica de 24:
2 + 4 = 6
Encontramos o número 6 novamente num ciclo tão comum e próximo de nós, quanto é o dia.
Na chave humana, o número 6 está relacionado com uma fase evolutiva superior à que a actual humanidade possui. Naquela fase, o ser humano teria acesso à intuição ou ao conhecimento directo das coisas. Conhecimento sem o discurso necessário para a mente e que actua como intermediário entre o conhecedor e o objecto conhecido, distanciando-os de alguma maneira. Através do recurso da intuição abrir-se-ia o acesso à essência das coisas.
O ciclo temporal seguinte, também muito presente na nossa vida, é a semana. A semana divide o nosso horário em sete partes que vão-se repetindo. Forma uma unidade para o desenrolar do nosso tempo, um ciclo.
A semana tem 7 dias e isto leva-nos a reflectir sobre o número 7.
O número sete reflecte-se na seguinte figura geométrica:
É a mesma figura com que representamos o número 6, à qual, adicionamos, porém, um centro, uma origem comum a ambos os triângulos, uma síntese. Reflecte um ciclo completo, que representa a classificação ou estrutura septenária da Natureza na fase actual do planeta Terra, segundo disse Jorge Angel Livraga no seu livro “Introdução à Sabedoria do Oriente”.
Sete são os dias da semana, as notas musicais, as cores básicas… inclusivamente as “partes” do ser humano são sete, de acordo com o mesmo autor atrás citado e segundo H. P. Blavatsky na sua obra “Doutrina Secreta”. Encontra-se também esta referência num papiro egípcio conhecido como o Papiro de Ani, onde as “partes” atrás mencionadas são simbolizadas pelos seguintes elementos:
Etereo-Físico (matéria e forma): representado por um cubo achatado de baixo da barra horizontal da balança e está coroado com uma cabeça humana.
Vital ou Energético: representado por uma jarra vermelha ou um coração que está pendente do extremo esquerdo da vara horizontal da balança.
Psicológico: representado por uma figura humana situada entre o prato esquerdo da balança que sustem o Coração e a coluna vertical do instrumento.
Mente concreta ou dual e Mente Pura: representadas por um par de figuras femininas que estão situadas à esquerda do prato da balança que sustem o coração. A mente concreta é a que actua comparando os opostos e está influenciada pelo desejo. A mente pura é aquela mente altruísta que está desapegada dos interesses mundanos. Intuição: representadapor um pássaro, uma mistura de andorinha e falcão, com cabeça humana, que tem a propriedade de poder colocar-se acima das coisas concretas. Sobre a intuição já falamos anteriormente.
Vontade: representada pela figura da esquerda, que precede a da Deusa Isis. É a parte mais elevada do ser humano e por isso tem o mesmo tamanho que as representações dos Deuses. Recordemos que, segundo H. P. Blavatsky, no final do caminho todos os seres serão a gota no Oceano, a faísca no Fogo.
Informação muito mais detalhada sobre estas partes do ser humano, descritas no papiro de Ani, pode ser encontrada no livro Tebas, de Jorge Ángel Livraga.
Outro ciclo importante para nós, é o ciclo anual. O ano tem 365 dias. Se fizermos novamente a soma pitagórica:
365 = 3 + 6 + 5 = 14
14 = 1 + 5 = 5
Aqui encontramos outro número, o cinco de significado especial para o ser humano que reflecte-se nas seguintes figuras:
Temos o pentágono e a estrela de cinco pontas. De novo, podemos observar a combinação de triângulos.
Sobre esta figura, Jorge Ángel Livraga disse: “Esta figura é filha do número cinco e representou, nos Antigos Mistérios, o Microcosmos, ou seja, o Homem, e foi chamada na Liturgia Hebraico-Cristã, Estrela de David”. (“Introdução à Sabedoria do Oriente”).
Também encontramos o número cinco relacionado com o Quinto Elemento ou Éter do qual nos falam grandes filósofos como Platão, H. P. Blavatsky, Jorge Ángel Livraga e outros e que, na chave humana, estaria relacionado com a mente pura, livre de egoísmos, da qual já temos falado. Alcançar esta mente pura livre de apegos, está evidentemente no futuro, considerando o estado actual da humanidade. Atingir este objectivo significaria completar um ciclo, que não sendo o mais elevado, seria,porém, o próximo passo da evolução da humanidade.
Segundo o Kybalion, o universo é mental. Porém o universo está manifestado materialmente e, como tudo o que é manifestado, é um ser em evolução. Também para o seu autor, (Hermes Trismegistus) existe este Quinto Elemento, chamado AEther por H. P. Blavatsky.
H. P. Blavatsky disse que:
O Éter é o quinto dos sete Princípios ou elementos cósmicos, que por sua vez tem sete estados, aspectos ou princípios (Glossário Teosófico).
O Éter positivo, fenomenal, sempre activo, é uma força-substância; enquanto o omnipresente e omnipenetrante, Æther é o númeno do primeiro, ou seja, o Akasha”. (Glossário Teosófico).
O Universo é a expressão da Vida. Todo o Universo está vivo e todo o ser vivo é uma unidade perfeitamente ordenada, matematicamente ordenada. Esta ordem manifesta-se desde o mais alto (da maior perfeição) até ao mais baixo e está sempre presente, mesmo nas situações aparentemente mais casuais da vida quotidiana.
Os números, segundo a tradição filosófica, são entes arquetípicos, ideias, seres vivos que se reflectem no mundo manifestado de uma determinada maneira, numa forma geométrica que corresponde ao seu “corpo” e que nós representamos por determinados caracteres. Por isso, em determinadas religiões são representados por Deuses. Os números permeiam tudo.
Outro número, outra ideia que usamos muito na nossa vida quotidiana é o conceito de uno. E, de facto, nós o tornamos compatível com a multiplicidade sem nenhum problema. Dizemos: tenho uma família. Esta simples frase implica várias coisas. Vejamos; primeiro que eu sou um. Contudo, eu estou composto de muitas “partes”. Para além de ter vários órgãos, aparelhos e sistemas, posso ter diferentes formas de comportamento que dão lugar a vários eus. Não obstante, considero-me uno: eu. Também assim, a minha família é uma apesar de ter vários membros.
Também o meu trabalho é um, ainda que tenha muitas facetas.
Tudo isto corresponde ao ser, à ideia do Uno.
Filosoficamente, o Uno é Aquilo de onde tudo provem, a origem de tudo, na sua chave mais elevada, O Real, também chamado Uno sem Segundo. Porém, quando surge a manifestação, esse Uno produz reflexos e é então que aparece a multiplicidade, sem que Ele deixe de ser o que era, o que é e será: o UNO. Da mesma forma que a família, o ser humano ou o trabalho tem vários componentes sem deixar de ser um.
Estas ideias são uma pequena amostra da influência que os números têm na nossa vida quotidiana. Porém, cada um pode reflectir e aprofundar de como os números influenciam a sua própria vida e perceber que o universo é matemático, que a ordem matemática rege todos os processos e que, quando esta ordem se rompe, é porque não estamos agindo de acordo com a natureza. Então, surgem as “catástrofes” que nos devolvem ao caminho abandonado. É a conhecida Lei do Karma que nos devolve a ordem perdida.
Aprofundar esta ordem matemática natural do universo é aprofundarmos a Vida, é aproximar-se de Deus, a esse mencionado UNO que, sem deixar de ser, é a causa de outros “Unos” que são parte Dele. Esta ideia de união com o UNO, foi expressada por H. P. Blavatsky, com toda a clareza, quando indicava como mencionamos antes que no final do caminho voltaremos a ser a gota no Oceano, a chispa no Fogo. Se bem que ela também deixe claro que o final do caminho volta a converter-se no começo de um outro novo caminho, eternamente, qual coração que jamais deixa de pulsar.
Bibliografía:
Introdução à Sabedoria do Oriente, Jorge Ángel Livraga.
Timeu, Platão.
Tebas, Jorge Ángel Livraga.
Glossário Teosófico, H. P. Blavatsky
Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky