Imaginemos uma esfera lisa e perfeita colocada próxima de um plano geométrico. Num pedaço de papel, isto seria representado por um círculo tocando uma tangente, que certamente seria uma secção bidimensional da figura tridimensional. A esfera e o plano são um símbolo apropriado da justaposição dessa natureza do homem, que devemos descrever como espiritual (embora na maioria dos homens dificilmente esteja manifestada) e o mundo de factos e circunstâncias materiais no qual ele existe.
O ponto onde a esfera toca o plano é o ponto da sua percepção terrena, ou consciência. Se o universo do passado, presente e futuro for concebido como um continuum quadridimensional, sendo o tempo a quarta dimensão, então o plano (neste símbolo de plano e esfera) representaria esse continuum, e a esfera algo totalmente além dele.
Pode-se conceber a consciência espiritual capaz de uma expansão infinita como estando em muito mais dimensões do que aquelas com as quais estamos familiarizados. Mas, como essas dimensões e possibilidades são desconhecidas de nós, poderíamos contentar-nos em pensar na diferença em termos de apenas uma dimensão, além do plano de nosso conhecimento. A esfera em relação ao plano possui essa dimensão. Obviamente, um cubo é o mais simples sólido rectilíneo linear perfeito de três dimensões. Para uma consciência que pensa em termos de escalas de medidas definidas, é a mais simples figura tridimensional que pode ser usada para simbolizar a perfeição. Mas a esfera é uma figura mais natural, como podemos ver nos exemplos proporcionados pela Natureza (planetas, gotas d’água, etc.), sendo uma equivalente ampliação tridimensional de seu ponto central, assim como um círculo é uma extensão bidimensional uniforme de seu centro.
Sendo a perfeição, ou a beleza, a marca do Espírito quando se objetiva, a natureza espiritual do homem deve ser perfeita, ou bela, em cada uma das suas expressões, por mais limitada que seja essa expressão. Isto é simbolizado pelo facto de que cada secção de uma esfera é um círculo completo e perfeito. O círculo, sendo um símbolo de eternidade e incomensurabilidade, a qualidade dessa perfeição é uma qualidade indefinível de eternidade, tal como encontramos numa obra de arte que permanece, o tempo todo, expressando uma ideia cujo valor ou apelo é de significado universal.
Num círculo, cada ponto na circunferência está equidistante do centro: a esfera tem propriedade semelhante, indicando que na sua superfície todas as coisas de carácter fenomenal estão igualmente relacionadas com o centro dessa consciência, representado pela esfera. Portanto, esse centro pode ser considerado como o fragmento ou reflexo – como Atma ou Mónada – da divindade na natureza interna do homem.
Esse centro está sempre diretamente acima do ponto onde a esfera toca o plano; o que mostra que cada reação desse plano, que é directa e, portanto, do efeito mais pleno possível, passa através do centro, dele evocando ainda uma resposta que desperta e desenvolve o ponto abaixo. Mesmo se a reação do plano não estiver em ângulos rectos com o plano – isto é, se não estiver totalmente como deveria – ela deve ter um componente que atravessa o centro e tem assim um efeito limitado sobre a relação entre o centro interno e sua imperfeita reprodução externa. O raio que liga os dois, sendo sua relação directa, não tem inclinação tangencial, isto é, não mostra inclinação às tendências de vida material ou mundana.
À medida que a natureza espiritual do homem cresce em magnitude, a esfera expande-se. Se mantém o toque com o plano, a sua expansão a tamanhos sucessivos pode ser representada como uma série de círculos tocando todos a tangente no ponto comum. O raio torna-se cada vez mais longo, o centro retrocede para cima, mas em cada elevação permanece diretamente acima do ponto de contato.
Ou seja, do ponto de vista da consciência inferior, o centro do seu ser ou Atma aproxima-se da divindade infinita mas – para usar um termo astrológico – é sempre visto no meio do céu, alinhado com os mais elevados conceitos pessoais. Quando o centro se eleva rumo ao infinito, a esfera torna-se ilimitada em extensão e aproxima-se do plano no ponto de contacto; para todos os propósitos práticos ela identificou-se com o plano, num círculo cada vez mais amplo em torno desse ponto. Isto é, a consciência que é esse ponto expande-se num círculo que inclui mais e mais do plano, até que alcança um estado de virtual omnisciência relativamente ao mundo em que existe.
Excerto do livro “O Interesse Humano”, N. Sri Ram