Conforme referimos no artigo anterior, ao abordar ou tratar qualquer entidade numérica como um número-símbolo e não como um número aritmético [¹], verificamos que formam parte de uma sequência simbólica, à qual a nossa mente não pode escapar: os números símbolos não vivem isolados, mas fazem parte de um “continuum” em evolução. Quando tratamos de os apreender, de os fixar, escapam-se como seres vivos que são, seguindo a sua própria sequência numérica vital.
A Dualidade, explicada anteriormente, transforma-se na Tríade que completa a sua forma. É o primeiro número que possui uma tradução geométrica como figura completa: o triângulo, desta forma fechando e completando o desequilíbrio do dual.
É uma etapa que termina e que em Simbologia representa o escalão superior da Tríade Criativa. É tão representativo de toda a série que existe também o que se denomina “Número Triangular”, capaz de gerar por sua vez outra série de números triangulares. O primeiro dessa série de números triangulares representa todo o conteúdo dos números simbólicos que vamos desenvolver: trata-se da Tetraktys pitagórica:
A Tetraktys exemplifica os passos a partir do 1 até ao 2 (segunda linha horizontal), ao 3 (terceira linha horizontal) e ao 4 (quarta linha horizontal). Isto é desde a Unidade até ao Quadrado-Quaternário que representa o nosso mundo. O nosso universo tem 4 dimensões: altura, largura e profundidade (que compõem as três dimensões espaciais) e o tempo:
A Tetraktys condensa em si a geração numérica, sendo a sua soma 10, que é o nascimento de uma nova série, porque 10, escrito de outra forma é a unidade-gérmen nascida no seio do 0:
Como referimos acima, a Dualidade implica desde o início uma Tríade, que é simultânea, ainda que na nossa consciência apareça depois. Tomemos o exemplo de um pêndulo: se aplicarmos uma força lateral, o pêndulo oscilará para um lado e para o outro, linearmente, formando uma tríade, o centro de onde pende o movimento lateral de oscilação.
Cada vez que pensamos num par de opostos, inconscientemente colocamo-los sempre contra um fundo ou origem, que é o terceiro termo que constitui a tríade.
O Três exprime o simbolismo dos três aspectos Logos, que são o motor e a raiz do mundo fenomenal. Para os antigos, qualquer definição da Derradeira Realidade, do Grande Mistério estava para além da percepção humana. Agora, o que certamente se podia constatar eram os seus efeitos visíveis no Universo Manifestado.
A observação do mundo que nos rodeia permite perceber a existência de Leis, desde as físicas como a Lei da Gravitação, ou as psicológicas e morais, como a lei do Karma. Todas as leis implicam a existência de uma Vontade por trás delas. Por exemplo, numa sociedade humana as leis são a expressão da vontade dos seus legisladores e do Governo. Essa primeira manifestação do Mistério é o Primeiro Logos: LEI (nível objectivo, o que é perceptível) e VONTADE (nível subjectivo, o que implementa ou estabelece essa lei).
Também posso observar que todas as coisas se desenvolvem graças a uma força que as coloca em movimento, uma energia que está ao mesmo tempo presente no mundo vegetal, nos animais, etc., formando conjuntos harmoniosos no contexto da manifestação da vida. Hoje chamamos-lhes Ecologia e Biologia. Essa energia partilhada é cuidadosa e até “carinhosa” com os seres, quando um ramo de uma árvore se quebra, as resinas cobrem as feridas e observo o mesmo numa ferida ou numa doença no ser humano, trata-se da chamada “Energia Vital”, que provém de uma “Sabedoria” essencial. Não é um conhecimento que se adquira em livros ou nas universidades, mas que está impresso, por assim dizer, na própria raiz da Vida, sendo por isso uma Sabedoria Vital. É AMOR (nível subjectivo) ENERGIA-VIDA (nível objectivo) que se exprimem como força activa do Amor Vital. Nisto consiste a segunda característica do Logos.
Finalmente posso constatar a presença dentro de cada ser de Estruturas Inteligentes, basta possuir um pouco de espírito científico para reconhecer os muito bons “desenhos” presentes na Natureza, tudo tem estruturas inteligentes, bem pensadas, o que denota a presença de uma inteligência subjacente. É nisso que consiste a terceira expressão do Logos: FORMA (nível objetivo) – INTELIGÊNCIA (nível subjetivo).
Estes três aspectos do Logos atravessam o Universo do mais alto ao mais baixo: dos Ninhos de Galáxias, passando pelos Sistemas Solares, Seres Humanos, partículas atómicas… e têm a sua expressão particular em cada uma dessas esferas ou níveis. Podemos dizer que esta marca também se encontra no Espírito no ser humano:
As definições que geralmente são dadas sobre o espírito humano estão cheias de analogias, poesia e… fantasia.
Se imaginarmos por um momento que somos um ser humano que teve uma daquelas estranhas doenças em que não podia sentir o toque, nem mesmo o toque interno, o que nos permite conhecer as posições de nossas articulações e, assim, sentir a gravidade (por exemplo, a tabes dorsal) e se também imaginássemos que não temos visão, olfato ou audição, então seríamos uma espécie de mente a trabalhar sem contacto físico com o exterior.
Suponha que outra mente comunica-se connosco, telepaticamente perguntando-nos algo assim: “Poderia dizer-me o que é o Espírito? Eu pergunto porque outra mente disse-me que existe algo chamado assim, mas não conseguiu explicar-me.” Nesse caso, o que poderíamos responder?
As explicações habituais como: “é algo muito profundo e interno”, “é a nossa parte superior”, ou “é como uma forma subtil semelhante, mas transparente”, seriam respostas totalmente absurdas, pois sem ter sentidos ou contacto através do corpo, qualquer definição que falasse de “superior”, “dentro”, “subtil”, “transparente”, não teria qualquer significado; todas são definições alegóricas e poéticas que usam os nossos sentidos e o nosso corpo como referência.
Em vez disso, teríamos que dizer que não sabemos, ou poderíamos tentar responder algo assim:
“Não sei que mistério é esse que vocês chamam de Espírito, mas o que sei é que existem fenómenos estranhos que acontecem quando penso. Às vezes acontece que, quando estou a pensar, posso observar-me a fazê-lo. É como se houvesse dois “eus” dentro de mim ao mesmo tempo, um que pensa e outro que observa e julga, e essa segunda parte de mim é mais objetiva, menos egoísta, mais racional e nobre.”
“Há também um segundo fenómeno: quando tento encontrar a solução para um problema, penso e penso, mas não a encontro, até que de repente, sem pensar, encontro a solução, de forma clara e óbvia, embora não saiba de onde vem.”
“O terceiro fenómeno é que tenho ideias que tento evitar e não consigo, ou pelo contrário quero fixar-me numa ideia mas a minha mente foge para outros pensamentos. No entanto, há momentos em que um poder estranho vem em meu auxílio e que me ajuda a manter as minhas ideias na direção certa ou impede que o meu pensamento caia em ideias circulares sobre as quais não quero pensar.”
Bem, se analisarmos essa resposta, veremos descritos os 3 aspectos do Logos manifestados no ser humano: Vontade, Sabedoria e Inteligência.
Assim, o número Três no ser humano, corresponde à manifestação da
Tríade Logóica como Atma (Vontade-Lei), Budhi (Sabedoria), Manas (Mente Superior, Inteligência)
Essas são as definições reais do Mistério que se manifesta em nós, o resto é poesia.
(Continua neste número)
Notas:
[¹] Os números da aritmética servem-nos para fins práticos, para contar coisas. O número-símbolo representa ideias e também possui as suas próprias regras de funcionamento.
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