Simbologia Numérica 5 – O Lado “Obscuro” do Número 5

Uma coisa muito diferente é ter uma mente educada no autocontrolo, nos valores éticos, na paciência diante da adversidade, colocando o bem dos outros antes de satisfazer os desejos próprios, e outra é ter uma mente refinada, sim, mas no vício, astuta para buscar a vantagem acima de qualquer valor ético. Esperta embora não inteligente, uma mente utilizada para dominar os outros, para conseguir tudo o que deseja à custa de quem é necessário para esse fim. Então, o homem torna-se um lobo para o homem. A sua maior virtude, a inteligência, é usada na sua face obscura para depredar os outros.

No artigo anterior estabelecemos o número cinco como o número do homem desperto.

Na figura do “Homem Vitruviano” de Leonardo Da Vinci, aquele que mantém os braços horizontais inscritos num quadrado, representa o Homem Quaternário, ou seja, o conjunto de estruturas ligadas a um eu ilusório. Não é mais que um animal inteligente.

O que torna o ser humano “divino”, ou seja, especial, é o aparecimento de um quinto elemento, um mistério dentro do mistério. Assim, devemos perguntar várias coisas: De onde vem esse quinto princípio? Qual é a sua origem e o seu propósito? É realmente parte do ser humano ou é algo imposto “desde cima”?

Mas antes de continuar gostaria de fazer uma consideração. Platão visava que as almas mais refinadas eram precisamente as mais fáceis de corromper.

Aquele que é um bruto, um homem muito primário, só responde aos instintos básicos, mas não pode ir além. É como uma pedra bruta. Alimente-o e ele ficará satisfeito tirando a sua soneca.

No entanto, o homem educado do século XXI, refinado em todos os tipos de costumes, alimentos, vestuário, etc., pode ser facilmente corrompido, seja pela fome, pela dor, pela desgraça, pela guerra. O seu próprio refinamento torna-o fraco frente às piores tentações e diante de seu próprio egoísmo desenfreado, filho da necessidade e do mandato de sobreviver a todo custo, será capaz de assassinatos em massa, do genocídio e das piores e refinadas aberrações que a mente humana pode conceber. E aqui chegamos ao cerne da questão: trata-se da mente humana, e enfatizo o humana, não é a mente animal mais ou menos desenvolvida nem a de um hipotético computador do futuro, mas a mente “especial” do ser humano.

E esta mente humana, quanto mais refinada for, mais fácil será corrompê-la e piores serão os seus crimes. Uma coisa muito diferente é ter uma mente educada no autocontrolo, nos valores éticos, na paciência diante da adversidade, colocando o bem dos outros antes de satisfazer os desejos próprios, e outra é ter uma mente refinada, sim, mas no vício, astuta para buscar a vantagem acima de qualquer valor ético. Esperta embora não inteligente, uma mente utilizada para dominar os outros, para conseguir tudo o que deseja à custa de quem é necessário para esse fim.

Então, o homem torna-se um lobo para o homem. A sua maior virtude, a inteligência, é usada na sua face obscura para depredar os outros.

Assim, temos por um lado a estrela de cinco pontas, com um vértice para cima, que representa a possibilidade de “salvação”, isto é, de “salus”, de que o homem possa viver verdadeiramente a sua imortalidade. Entre os gregos e romanos esta possibilidade também foi simbolizada em Hygeia (em grego Ὑγιεία), precisamente a deusa da “Saúde” e filha de Asclépio, o deus da medicina. E o seu símbolo, assim como o dos pitagóricos que “sau-davam” com seu nome, era a estrela de 5 pontas.

Mas como diz o ditado, “Daemon est Deus inversus“, isto é, “O Diabo é Deus invertido”. Essa brilhante faculdade de Prometeu, o Fogo da Mente concedido ao homem desde as regiões divinas, também tem seu reflexo inverso, assim a inteligência pura transforma-se em astúcia, em ser esperto para tirar vantagens sobre os outros, nas picardias, na astúcia, na artimanha, na dissimulação, na malícia. E então o pentagrama converte-se em satânico e maligno:

Toda a estrela-homem agora aponta para baixo, porque o quinto elemento verdadeiro já não existe, mas um que o substitui e o conduz ao abismo, é seu reflexo perverso, a mente destrutiva para si mesmo e para os outros.

Por esta razão, os símbolos e seus atores foram divididos em “os Bons“:

  • Manas-Mahat, o princípio inteligente no universo e no homem, o Homem com seu Quinto princípio ativo,
  • Os Kumaras, os iogues puros da tradição hindu e guardiões da humanidade,
  • O símbolo sagrado do Makara-místico dos hindus (Ma-kara = 5 rostos) e o Lúcifer (o portador da luz) antes da Queda, e Seth, o adversário, mas também o Iniciador entre os egípcios, antes de cair.
  • O Bode Expiatório entre os judeus e Pan, o gentil deus de toda a natureza.
  • A Serpente da Sabedoria e o Uraeus ou serpente na testa dos faraós iniciados.

Em resumo, no “Deus Uno” interior, enquanto seus opostos e inversos são eles mesmos, mas no seu papel de “Maus”, e seus símbolos são:

  • Satã, e Seth depois de cair, Lúcifer e os Kumaras se transformaram-se em Demónios.
  • Makara, o monstro aquático, o Bode da feitiçaria, Pan, o Diabo,
  • A diabólica e tentadora Serpente.
  • O daimon (demónio), uma palavra que originalmente significava dai-monos, ou seja, o único deus ou espírito que habita cada ser humano.

Como podemos ver, são duas versões da mesma coisa. Dois pontos de vista, ou talvez duas fases na evolução do mesmo. Uma é a versão boa, aceita, ortodoxa e santificada, e a outra a versão condenada, especialmente por todos os deuses exotéricos e dogmáticos, e sobretudo pelos seus seguidores.

Sem entrar em mais detalhes, podemos entender por que razão o número 5 tem aquela natureza dupla que o torna desarmónico ou instável. Na verdade, trata-se do homem como ser mental e, coletivamente, de toda a humanidade, ou seja, os anjos rebeldes diante da passividade, aqueles que renunciaram a um céu de querubins porque queriam ser como o próprio Deus. E isso supõe o uso da experiência mental, que como sabemos oscila entre lógica, analisadora, calculista, fria e amoral, e analógica, moralizante, unificadora e divina. É também a marca alegórica de Caim, o pai de todas as civilizações e o grande assassino do inocente Abel que cada um carrega dentro de si.

Qualquer autêntico filósofo experimentou em si mesmo a condenação e rejeição de todos os bons pensadores, você mesmo que lê este texto certamente não será compreendido por muitos ao seu redor.

Qual é a lição de tudo isto? Bem, embora tenhamos recebido uma enorme oportunidade de descobrir e cultivar esse divino quinto princípio em nós, não devemos desperdiçá-la caindo na utilização egoísta, vaidosa e manipuladora do conhecimento.

Em “A Voz do Silêncio” traduzido por H.P. Blavatsky, adverte-se sobre o perigo da Iniciação. Diz-se que o discípulo passa por três salas: a da Ignorância, na qual a grande maioria nasce e morre, a da Instrução e, finalmente, o Limiar que nos leva à Sabedoria Ilimitada.

Por ser ignorante ninguém pode ser condenado, basta ter o que têm, sofrer seu próprio Karma sem saber por quê. Sabemos muito sobre isso. Mas quando acedemos à Sala de Instrução, ante os novos conhecimentos adquiridos, surgem a vaidade, a perfídia, o mau uso daqueles conhecimentos, entretendo-se neles sem qualquer propósito.

O nome da segunda Sala é o da Instrução. Nele a sua alma encontrará as flores da vida, mas sob cada flor há uma serpente enroscada.

“A Voz do Silêncio”

Acredito que não existe uma fórmula única ou fácil, mas parece-me que o que precisamos fazer é atravessar a Sala de Instrução o mais rápido possível, talvez admirando aquelas flores, mas sem inalar seu perfume, sem deixar-se embriagar por ele, sem parar excessivamente, mas apenas o suficiente para tomar nota da lição e seguir em frente, e para isso não há encorajamento melhor do que saber que lá na frente, na Sala da Sabedoria, não há anjinhos a tocar harpa a esperar-nos, mas infinitos irmãos deserdados a quem podemos ajudar agora que sabemos.

(Continua)


Imagem de capa:

Foto de Arteum.ro na Unsplash

Composição MpF



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