Mas apesar de todos os Seres estarem juntos, por outro lado, cada um está separado. Estes Seres contidos na Inteligência e na Essência, a Inteligência que os contém vê-os dentro, não olhando para eles, mas contendo-os, nem separando cada um deles, pois já estão separados nela para sempre. A prova contra aqueles que se surpreendem por serem assim é retirada dos participantes. Mas a grandeza e beleza da Inteligência é provada pelo amor que a Alma tem por ela, pelo facto de o amor de outras coisas pela Alma se dever à semelhança da sua natureza com a Inteligência e ao facto de outras coisas terem alguma semelhança com a Inteligência. E seria realmente absurdo que houvesse um belo animal se não houvesse um “Animal em si” de beleza surpreendente e inefável. E este é o “Animal total”, composto por todos os animais, ou melhor, que “contém em si todos os animais” e é um múltiplo como todos os animais, tal como este universo, sendo um só, é ao mesmo tempo tudo visível, contendo em si todas as coisas que estão no visível.
Portanto, uma vez que é o Animal primordial e, portanto, o próprio Animal, uma vez que é a Inteligência e a Essência – a verdadeira Essência – e já que dizemos que contém todos os animais, o número total, a própria Justiça, a própria Beleza e quantas outras Essências são a estas semelhantes – falamos, de facto, num sentido diferente do próprio Homem, do Número em si e da própria Justiça – é necessário examinar como cada um destes Seres é e o que é dentro do que é possível averiguar estas coisas.
Bem, em primeiro lugar devemos dispensar toda a sensação, devemos considerar a Inteligência com inteligência e devemos ter em mente que também em nós há uma vida e uma inteligência inerentes não a uma massa, mas a um poder sem massa, e que a verdadeira Essência se desfez destas coisas e é um poder sustentado em si mesmo, não uma coisa fantasmagórica, mas a potência mais vital e inteletiva: nada mais vital, nem mais intelecto nem mais substancial do que isso; e quem entrar em contacto com ela participa em tudo isto de acordo com o grau de contacto: o próximo, o na proximidade, e o mais distante e o longínquo.
Agora, como o ser é desejável, o Ser em maior grau será mais desejável, como será a Inteligência suma, uma vez que a compreensão, em geral, é desejável. Diga-se o mesmo sobre a vida. Se, então, é necessário colocar o Ser em primeiro lugar porque é o Primeiro, a Inteligência em segundo lugar e o Animal em terceiro lugar (uma vez que o Animal parece que abarca todos os Seres; mas a Inteligência em segundo lugar porque é actividade da Essência), o Número não pode ser encontrado ao nível do Animal, desde antes dele havia um e dois, nem ao nível da Inteligência, porque antes havia a Essência, que era una e múltipla.
Resta, então, estudar se é a Essência que, com a sua própria fragmentação, gera o Número ou se é o Número que fragmenta a Essência; da mesma forma, se a Essência, o Movimento, a Estabilidade, a Identidade e a Alteridade em si engendraram o Número ou se foi o Número que os engendrou. O ponto de partida da investigação é o seguinte: o Número é capaz de subsistir sobre si mesmo? Ou é antes a mente que coloca o dois em duas coisas e o três em três coisas? E a unidade numérica? Pois se a unidade numérica pode subsistir em si mesma sem coisas numeradas, pode estar antes dos Seres. Será mesmo antes ao Ser? Por enquanto, admitamos que o Eu é anterior até ao Número e concedemos que o Número vem do Eu. Mas se o Ser existe porque é uno e as coisas que são duas existem porque existem duas, segue-se que a Unidade será anterior ao Ser e o Número aos Seres.
– Na mente que abstrai e inclui ou também na realidade?
– Vamos abordá-lo desta forma: «quando se pensa que o ‘homem’ é uno só e ‘belo’ como uno», certamente a unidade que sobrepensa em cada uma destas duas coisas é posterior; Da mesma forma, quando pensa em “cavalo” e “cão”, é evidente que o dois aqui é posterior. Mas suponha que gerara homem, cavalo e cão, ou que, tendo-os lá dentro, os trouxe para fora, e não os gerara nem trouxe ao acaso. Não é verdade que diria: “Tenho de começar por um, depois passar a outro e fazer dois, e depois, por minha conta, tenho de fazer outro”? Porque também não são numerados os Seres uma vez originados, mas já era claro de antemão quantos tinham de ser originados. Então o Número total existia antes dos próprios Seres.
– Mas se existia antes dos Seres, o Número não era Ser.
– Na realidade, existia no Ser sem ser Número do Ser, uma vez que o Ser ainda era uno, mas quando a força do Número veio à existência, dividiu o Ser e fez com que parecesse, por assim dizer, multiplicidade. Porque ou a Essência ou a atividade do Ser será o Número; o animal em si e a inteligência serão Número. E não é verdade que o Eu será o Número combinado, o Número de Seres desenvolvido, o Número de Inteligência que se move em si e o Número Animal abrangedor? Na verdade, como o Ser vem da Unicidade, assim como aquele era uno, então o Ser devia ser Número; e a isso chamavam as Formas Henadas e Números. E este é o número substancial. Há outro número, o chamado «monádico», imagem daquele. O substancial é de dois tipos: o sobrepensado nas Formas e cogerador das Formas, e o substancial primário, que é o que está no Ser, é com o Ser e é anterior aos Seres. Os Seres têm no Número na sua base, sua fonte, sua raiz e os seus princípios. O princípio do Ser é a Unidade e nesta apoia-se o Ser – caso contrário iria espalhar-se – e não a Unidade no Ser. Caso contrário, o Ser já seria uno antes de participar na Unidade, e o que participa na Dezena seria já dezena antes de participar na Dezena.
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