Tempo e Duração desde o Ponto de Vista Filosófico e Científico – Terceira Parte

Quando aparece a teoria da Relatividade Geral, diz-se que a gravidade distorce o tempo, logo a duração de um segundo depende do lugar em que se encontre o observador. Em situações limite, seria impossível saber se um acontecimento ocorreu antes que outro.
1 Einstein. Creative Commons

A Teoria da Relatividade parece ver o tempo como uma extensão do espaço, ou seja, como uma nova direcção. O tempo seria a direção do espaço-tempo, em que se podem realizar predições, logo o relato do universo não se desenvolve no espaço, sem o tempo.

A Mecânica Quântica descreve o comportamento dos objectos de forma diferente da Mecânica Clássica. Desta descrição fica definida por uma função matemática o estado quântico. Determinado estado troca com o tempo. Pode-se calcular a probabilidade dos resultados em qualquer instante. Os resultados calculam-se somente com probabilidades, ou seja, existe o que se chama incerteza.

Na Mecânica Quântica (probabilidades) é o tempo que possibilita a aparição de contradições, que vai afinando o processo até chegar a uma conclusão. A ordem temporal das medições é importante e devemos ter em conta que o estado quântico mostra as probabilidades para todo o espaço num dado momento, de maneira que, sem um sistema quântico ter duas partículas, as medições sobre uma influenciam sobre a outra, independentemente do lugar onde se encontre. Daqui se deriva a ação à distância, a qual preocupava Einstein, porque para que as partículas interagirem ao mesmo tempo, o tempo deveria ser um conceito parecido ao de Newton e isto estava proibido pela Teoria da Relatividade.

A ausência de tempo na Teoria da Relatividade é, no entanto menos importante, aos olhos da ciência atual, que a função deste tempo na Mecânica Quântica. Sendo isto assim, a unificação entre as duas é muito difícil. Não obstante, uma grande quantidade de investigadores terão tratado de fazê-lo.

O tempo já havia desaparecido quase completamente da Teoria da Relatividade Geral antes dos cientistas tentarem unificá-la com a Mecânica Quântica. Literalmente, isto implica que o tempo não exista. Então, tentou-se modificar a Mecânica Quântica de forma que não intervenha o tempo, já que, apesar da Teoria da Relatividade Geral, carecer de um tempo universal, no entanto, prevê a mudança na sequência dos eventos. Para isto, relaciona diretamente diferentes sistemas sem utilizar um conceito de tempo universal. O que faz é mostrar as relações entre os objetos e eliminar o tempo como intermediário. Isto parece possível descrever a troca sem recorrer a ele. Com o qual, o tempo não seria uma parte fundamental da estrutura do universo sem uma forma de facilitar o estudo das relações entre sistemas físicos. O tempo seria uma ficção comparável ao dinheiro.

Eliminar o tempo exige uma reconstrução total da Mecânica Quântica e, por outro lado, o conceito de tempo é tão básico, que eliminá-lo seria mudar radicalmente a forma em que percebemos as leis da Física, sem esquecer que nós percebemos o tempo como algo real. Logo, porque é que o mundo adquire uma aparência temporal?

Se aceitamos o princípio de Acção e Reacção, ou melhor, a sua expressão filosófica como Lei de Causa e Efeito ou Lei do Karma, tudo provém de uma causa. Logo, se o mundo tem uma aparência temporal, deve haver um tempo-causa, que a origine.

Claus Kiefer (Universidade de Colónia), de acordo com outros cientistas, defende que pode ser que o tempo não exista, mas se considerarmos o universo dividido em partes, algumas dessas partes podem servir de “relógios” para outras. O tempo surge do atemporal, diz-se, percebemos o tempo porque somos uma dessas partes.

É assombroso o quão parecido é este pensamento com o conceito filosófico já descrito anteriormente em Alma do Tempo.

Um trabalho publicado por uma equipa internacional de investigadores no The European Physical Journal (Mir Faizal, das Universidades de Waterloo e Lethbridge, no Canadá; Mohammed M. Khali, da Universidade de Alexandria no Egipto e Saurya Das, também da Universidade de Lethbridge) mostrou que a unidade mínima de tempo possível não é o “Tempo de Planck” (10-43 segundos), que é o intervalo de tempo mais curto permitido até ao momento pelas leis da Física, sem o qual seria inferior em várias ordens de magnitude.

 Logotipo do European Physical Journal. Domínio Público

Esta descoberta poderia modificar as equações da Mecânica Quântica e posto que a Mecânica Quântica estuda os fenómenos físicos na escala das partículas subatômicas, se produziria uma troca grande na descrição que faz do nível microscópico da matéria.

Nenhum laboratório conseguiu medir um intervalo de tempo menor que 10-17 segundos, que ainda está longe do “Tempo de Planck”. Não obstante, a nível teórico podem utilizar-se, dando muito bons resultados, como se faz também com a Gravidade Quântica ou a Teoria das Cordas. Teorias que mencionam que não se pode medir um intervalo de tempo mais curto que o “Tempo de Planck”. Este define-se como o tempo que um fotão leva, no vazio, a viajar no comprimento de Planck à velocidade da luz.

Estes investigadores começaram a aprofundar os seus estudos sobre a estrutura do tempo e concretamente em si o tempo é discreto ou contínuo. Se o tempo fora discreto, estaríamos perante uma sucessão de momentos fixos, como os fotogramas de uma película. Nesse caso, a nossa percepção da passagem do tempo seria uma ilusão provocada pela passagem dos fotogramas.

Porém, se o tempo for contínuo, ou seja, flui continuamente, seria possível colocar um número infinito de pontos entre dois pontos numa qualquer linha temporal. Nesse caso, o tempo não constaria em “fotogramas fixos”, mas que fluiria continuamente.

No trabalho que estamos a comentar, sugere-se que o tempo é discreto, propondo várias formas de demonstração experimental do mesmo.

Uma das demonstrações propostas consiste em medir as emissões espontâneas de um átomo de hidrogênio. As novas equações da Mecânica Quântica, obtidas por estes cientistas, preveem uma pequena diferença no nível de emissões espontâneas com respeito às previsões que tornaram as equações não modificadas.

As análises, que realizaram destas emissões, puderam comprovar que o intervalo mínimo de tempo possível é bastante mais curto que o tempo de Planck. Isto indica que, segundo estas novas equações, poderíamos ter que modificar o nosso conceito do tempo. A sua estrutura seria similar a uma estrutura cristalina, que consiste em secções discretas que se repetem de forma regular.

O físico britânico Julian Barbour, estudioso da gravidade quântica e da história da ciência, crê que o universo não é outra coisa que uma grande série de momentos e cada um deles, uma série de coisas. Não tem sentido, para ele, querer ordenar cronologicamente esses momentos, simplesmente são. De fato, não temos instrumentos que meçam a passagem do tempo, usamos o movimento para medi-lo, da mesma forma que medimos a temperatura mediante um intermediário: a dilatação dos corpos pela ação do calor.

Julian Barbour em 2012, na Conferência Metodológica de Cracóvia “O Universo Causal”. Creative Commons

Se a estrutura do tempo se considera discreta (formada por pacotes), a nossa percepção do tempo como algo que flui de maneira constante, não seria mais que uma ilusão.

Podemos recordar a comparação, feita anteriormente, ao longo de um filme em que uma série de fotogramas fixos, que se seguem, criam a ilusão de que são os objetos que se movem, quando na realidade é uma soma ou sequência de imagens estáticas (repetição de segmentos discretos).

Logo, se aceitamos tudo isto, a nossa percepção da realidade, baseada num movimento contínuo, num tempo contínuo, seria uma ilusão.

Sobre estas ideias poderia refletir-se bastante, por exemplo, numa película podemos avançar no tempo quantas vezes quisermos, tanto para frente quanto para trás. Também a memória nos faz “reviver” cenas do passado com quase a mesma intensidade com que as experimentamos pela primeira vez e, ainda assim, apesar de em geral não possamos experimentar o futuro, podemos imaginá-lo. Embora, de acordo com a filosofia tradicional, chegará um momento em que essa “imaginação” se converterá em clarividência, podendo abarcar tanto o futuro como o passado.

Em relação com o anterior estaria a possibilidade de fazer viagens no tempo. Viagens que, até agora, apenas estavam na imaginação de grandes personagens que foram capturadas em livros e filmes. Não seria a primeira vez que sucede, que algo imaginado desde muito tempo antes, se converte numa “realidade”, ou seja, plasma-se no mundo físico.

Tudo isso concorda com a ideia já exposta de Platão e H.P. Blavatsky do Tempo como algo que está mais além do mundo manifestado, a Alma do Tempo, que é a sua origem e causa.

H. P. Blavatsky. Creative Commons

No Mandukya Upanishads, diz-se: “Assim como uma aranha estende e junta a sua teia; assim como as ervas brotam no chão … do mesmo modo é o Universo, derivado daquilo que não decai”, Brahmâ, pois o “Gérmen das Trevas Desconhecidas” é o material do qual tudo se desdobra e desenvolve “como a teia da aranha, como a espuma da água”, etc. Isto é apenas gráfico e real quando o termo Brahmâ, o Criador, é derivado da raiz brih, aumentar ou ampliar. Brahmâ “estende-se” e converte-se no Universo tecido da sua própria substância.

A mesma ideia foi belamente expressa por Goethe, que disse: “Assim, submeto-me ao tear nítido do tempo e teço para Deus a roupa com a qual o hás-de ver.”

ESTÂNCIA III. O despertar do Cosmos. Cosmogênese, Tomo I de Doutrina Secreta. H. P. Blavatsky.

Bibliografia:

Cosmogênese. Tomo I da Doutrina Secreta. H. P. Blavatsky

Timeo. Platão.

É o tempo uma ilusão? Craig Callender. Investigação e Ciência, Agosto 2010.

O universo inteiro é um único átomo? O retorno de Parmênides. José Carlos Fernández.

E se a passagem do tempo não passasse de uma ilusão? José Manuel Nieves. ABC, Ciência, 2016.

E se o tempo fosse uma ilusão? Revista Muito Interessante.

Wikipedia.

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