Uma explicação geométrica para um delito moral

Em 1876, na revista Spiritual Scientist de Boston, H.P.Blabatsky escreve o artigo "Crise no Espiritualismo", no qual oferece uma explicação geométrica muito interessante sobre uma infracção ou desequilíbrio moral. O grande médium D.D. Home atacou violentamente a autora e injuriou os seus irmãos espiritistas e a autora de Ísis sem Véu, de forma irónica e brilhante faz uma comparação da sua atitude com um problema geométrico. Mas nesta explicação em que reina o sarcasmo há, no entanto, ideias extremamente profundas que vinculam a dimensão da moral com as formas geométricas. Ideias estas que desenvolve também, como veremos, na sua obra imortal Ísis sem Véu.
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“Uma explicação geométrica para um delito moral” – H. P. Blavatsky1

Cada dia vemos um reforço da nossa doutrina de que os médiuns são controlados por espíritos de mais do que um tipo. Deixando de lado todo o Ocultismo metafísico, isto baseia-se em conclusões estritamente lógicas extraídas de silogismos bem estabelecidos. Para usar uma expressão de Victor Hugo, Deus é-nos demonstrado de forma matemática; Deus, portanto, é a Grande Unidade – a Mónada, o Alfa e o Omega, o Símbolo da Harmonia Universal que representa a Divindade. De acordo com Pitágoras, esta Unidade implica “Paz, Ordem, Justiça e Harmonia, e é Indivisível”. Este é o verdadeiro Espiritualismo. Assim que a Unidade se torna Dois ou a Diade, é a “origem do Contraste, Diversidade, Desigualdade, Divisibilidade, Separação”. É nisto que o Espiritualismo Moderno ameaça tornar-se. Dois, tomado por si só, é, em Ocultismo, o Princípio do Mal – uma série de maus augúrios, caracterizando Desordem, Confusão e Dissensão; no entanto, dois são indispensáveis ​​na Natureza, mas devem ser mantidos em equilíbrio, mantendo a linha recta geométrica – símbolo da imparcialidade. Daemon est Deus inversus.

Tracemos agora a linha imaginária e façamos dela o fiel de uma balança, em cujos dois pratos estão unidades iguais, representando respectivamente o bem e o mal, a luz e a sombra, o espírito e a matéria, Deus e o Diabo. Contanto que essas forças opostas actuem apenas nos seus segmentos internos e não transgridam os externos; enquanto nos mantivermos na linha estrita entre os dois, estaremos no caminho certo. Pois a Lei de Compensação é justiça estrita e imparcial, e justiça significa punição pela transgressão, bem como recompensa pelo bem-fazer. Se uma ofensa não fosse punida, seria tão injusto quanto uma boa ação não ser recompensada. Misericórdia sem justiça implicaria fraqueza, e permitir que até mesmo a bondade fosse levada a extremos sem controle, sugeriria uma ideia incompatível com uma Divindade Harmoniosa e matematicamente demonstrada.

Se podemos acreditar num Deus, é naquele que é a personificação da Harmonia; e, como vemos, a harmonia só pode existir onde há um equilíbrio justo. Tal Deus os egípcios simbolizavam com uma pedra cúbica com uma superfície verdadeira e quadrada em cada um de seus lados. Teoricamente representava tanto o bem como o mal, e assim a união de Deus-Espírito e Deus-matéria foi indicada nesta Imagem admiravelmente concreta. Se um dos lados se projetasse uma fração de polegada, ou melhor, a largura de um fio de cabelo, além do quadrado exato, não haveria simetria e a pedra não poderia representar a Divindade. Da mesma forma, se qualquer um dos pratos da nossa balança imaginária desce, a unidade descendente torna-se o Mal; e a Unidade, ou Deus, é conquistada pela Diade, ou Diabo.

Agora, as nossas conclusões: se Home tivesse limitado o seu abuso a mim mesma, que não afirmo ser nem infalível nem imaculada, mas pelo contrário, pelo meu modo de vida, sempre forneci os melhores petiscos de escândalo para paladares como o dele, ninguém poderia reclamar. Até eu poderia ter admitido que esse grande médium estaria a agir como o flagelo da Lei de Compensação, e humildemente aceitaria a minha punição. Mas agora ele inclui-me entre várias vítimas, duas das quais – Leymarie e Firman – já foram vitimadas pela “Justiça” humana, com base no testemunho de um confesso perjuro. Assim, ao tomar o lugar de outro carrasco, faz tombar o travessão da balança já por si desequilibrada. A harmonia é destruída, mas o teorema oculto é demonstrado. Parafraseando em forma de silogismo as nossas três proposições, podemos dizer:

Premissa Maior: Semelhante atrai semelhante; espíritos bons e puros só são atraídos pela harmonia. Os maus pela discórdia.

Premissa Menor: O Sr. Home está em antagonismo com os seus irmãos médiuns, e é movido por sensibilidades, o oposto do bem.

Conclusão: Ergo, os “guias” do Sr. Home só podem ser espíritos das trevas; ou, como sua Igreja Mãe os chamaria – Demónios.

Para afirmá-lo de forma ainda mais matemática; O Sr. Home, pela sua malevolência, destrói o quadrado perfeito da Harmonia e atrai a si o mal. Ele desfigura esse quadrado num triângulo rectângulo e, tornando-se assim uma monstruosa hipotenusa mediúnica, subtende o ângulo recto da dissensão e forçando-o através de todos os médiuns que aparecem no seu caminho, empala-os impiedosamente na sua ponta afiada. Chamamos a isto testar espíritos e médiuns pelo Oculto Pitagórico e método Euclidiano-matemático!


Notas:

  1. Collected Writings (Escritos Coligidos), Vol I, 1876. A CRISE DO ESPIRITUALISMO

Imagem de capa

Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Composição MpF

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